Para meus filhos
PARA MEUS FILHOS
Alcy Araújo Cavalcante
(1924-1989)Escrevo
para meus filhos. Para dizer que é tempo de esperança entre tantas
desesperanças e que há, no coração grisalho, a certeza de que me
realizei em vocês, em cada nascimento de vocês, em cada Natal de vocês.
Poderia
dizer outras palavras, alinhar outras expressões. Mas acho que dizendo
que me realizei em vocês, estou dizendo o melhor que vem do meu dentro,
do que sou, do que amo como pai e como homem, cargueado pelas vivências
cotidianas e relativas.
Desejo que vocês e todos que tomarem
conhecimento desta crônica fiquem sabendo que eu os amo, porque vocês
estão em mim, nas minhas horas nuas, nos meus instantes mais íntimos,
nas coisas que mais me pertencem, como me pertencem as mágoas que
plantei como um lavrador de angústias.
Estamos mudando e eu não vou
garimpar palavras, nem costurar termos estabelecidos, nem concretar um
poema. Não que vocês não mereçam. É que tenho medo de não ser
transparente, não existir à luz equatorial, não exibir suficientemente
esta alegria de curtir vocês em cada vereda por onde passam meus pés nus
e pesados como barcos que buscam o fundo do mar, do grande mar
absoluto.
Gostaria de construir nesta página o meu sonho, o destino
de cada um. E vocês teriam as mais belas profissões, como as de santos,
poetas, sacerdotes, pintores... mas quem sou eu, além de um pai, para
construir destinos?
Todavia, eu ergo as mãos plenas de carinho e
acaricio a cabeça de cada um, num gesto de bênção. Deus os abençoe, pelo
muito que consegui ser como poeta e como homem sofrido. Feliz Natal
para vocês...
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