segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Hoje é Dia da Cultura

"Uma coletividade só representa alguma importância, sua voz é notada, seus filhos autenticados e o nome guardado e reconhecido – pela sua cultura."
Eu queria escrever que a cultura fervilha no Amapá. Mas estaria mentindo.
Que valor o Amapá dá para sua cultura, para seus artistas?

Por estas bandas o museu da imagem e do som só existe no papel, a Secretaria Estadual de Cultura não tem acervo, o Departamento Municipal de Cultura praticamente não existe e o Conselho Estadual de Cultura, este mesmo nem se fala.

Procure em alguma biblioteca obras como a antologia Modernos Poetas do Amapá, Autogeografia, Pássaro de Chumbo, Rosas para a Madrugada, Xarda Misturada. Não existem e é bem provável que os diretores das bibliotecas e o secretário estadual de cultura nunca tenham ouvido falar nelas. Poetas amapaenses figuram em importantes enciclopédias brasileiras, como a Brasil e Brasileiros de Hoje e Grande Enciclopédia da Amazônia, e internacionais como a Enciclopédia Portuguesa Portuguesa-Brasileira (editada em Lisboa). Mas não há um exemplar nas bibliotecas do estado ou do município.

Procure na secretaria estadual de cultura ou no departamento municipal de cultura dados biográficos, fotos ou qualquer informação sobre poetas, escritores, escultores, pintores, atores, músicos da época em que o Amapá era Território Federal. Nada existe. E não existe porque o poder público não se interessa em resgatar, valorizar ou incentivar nossa cultura e a iniciativa privada vai sempre a reboque do poder público.

O que sabem de artistas plásticos como R. Peixe (conhecido e respeitado em Portugal e na Itália), Espírito Santo, João de Deus, Manoel Costa, Carlos Nilson? Por onde andam as obras deles? R. Peixe desencantado com o Amapá mudou-se para o Rio Grande do Norte e lá morreu. Olivar Cunha também foi embora, foi fazer arte no Espírito Santo, Manoel Costa foi para o Rio de Janeiro, isso só para citar alguns.

Por onde andam as obras de Nina Nakanishi, conhecida internacionalmente, por suas esculturas feitas com pó de manganês? O que foi feito das gravações das rádio-novelas, cujo elenco era dirigido por artistas do quilate de Creuza Bordalo? O que se sabe dos festivais amapaenses de música na época em que era preciso realmente ser muito artista para driblar a ditadura?

Que apoio se dá aos novos grupos teatrais, aos contadores de histórias, ao Abeporá?

Pelo menos a música está sendo apoiada. Mas é como se fosse a única manifestação cultural existente nesta terra cortada pela Linha do Equador.
Portanto, quando você for convidado para um grande evento cultural saiba que trata-se apenas de um show musical, mas da melhor qualidade. E não perca a oportunidade de ir.