sexta-feira, 27 de abril de 2007

O caos na saúde

Por Raul Mareco

“O atendimento aqui que é precário, as máquinas vivem com defeito e durante a sessão de hemodiálise, elas param”. O desabafo da empregada doméstica Silvana Andrade retrata a situação do Centro de Nefrologia do Hospital Alberto Lima, em Macapá, da Secretaria de Saúde do Estado. É um dos muitos protestos ouvidos pela deputada federal Janete Capiberibe, pelos deputados estaduais Camilo Capiberibe e Ruy Smith, do PSB, e pelo ex-deputado estadual Randolfe Rodrigues, do P-SOL, que visitaram o Centro nesta semana para apurar denúncias sobre a precariedade dos serviços na instituição.
Os equipamentos do Centro de Nefrologia estão sucateados, todos eles com seis anos ou mais de uso e sem a devida manutenção. Das 20 máquinas, apenas 14 estão em funcionamento, segundo denúncia do Ministério Público. Os funcionários da empresa Ital Service Representação Importadora e Exportadora Ltda., proprietária das máquinas e responsável pela sua manutenção, estão sem receber salários desde dezembro. A Ital é uma das empresas arroladas no processo da Operação Antídoto por desvio de recursos da Secretaria de Saúde do Estado do Amapá e seu contrato vence apenas em 2008.
Risco – O Centro de Nefrologia atende 95 pacientes, mas parte deles teve seu tratamento suspenso por causa da falta de manutenção dos equipamentos e falta de kits para os procedimentos. “Já aconteceu várias vezes de a máquina parar no meio do meu tratamento, o meu sangue chegou a coagular”, afirmou a paciente Silvana Andrade.

A ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – determina que o atendimento aos pacientes renais crônicos seja realizado em três turnos e, segundo a equipe multidisciplinar de Nefrologia, o tempo determinado para a hemodiálise é de quatro horas em três sessões semanais. Mas a norma não está sendo cumprida pelo Centro de Nefrologia, de acordo com pacientes da unidade hospitalar.
“Aqui a gente vê muitos problemas com as máquinas. Quando quebram, fica muito tumultuado porque os pacientes ficam sem o tratamento. Eu sou um exemplo de que isso acontece, porque já fiquei sem fazer a diálise, por causa do defeito nas máquinas. Eu chego aqui três vezes na semana, às 6h prá (sic) sair às 15h. E isso vem piorando muito de uns tempos pra cá”, lamentou o paciente Alaéliton dos Santos.

Descaso – Os pacientes também sofrem com o transporte que deveria ser feito pelo Governo do Estado. “Estamos vindo debaixo de chuva para nos tratar aqui, porque não tem transporte. Sempre dizem que está na manutenção e lá passam de dois a três meses”, lamentou a empregada doméstica, paciente do Centro de Nefrologia.
Não faltaram protestos contra o governador do estado: “Não adianta eles virem dizer que aqui está uma maravilha porque é tudo mentira. Quem sabe da verdade é a gente que sofre na pele”, protestou Silvana Andrade. “É muita falta de respeito e de interesse com a gente que precisa do Centro de Nefrologia. Esse governo não está fazendo nada. É por isso que as pessoas estão sofrendo”, arrematou.
Reação – O deputado estadual Camilo Capiberibe (PSB), mostrou-se decepcionado com a falta de ação do governador Waldez Góes, do PDT. “Os problemas encontrados na Nefrologia causam risco iminente de saúde ao paciente amapaense”, alertou o socialista. “Preocupa-me extremamente quando a direção do Centro de Nefrologia se sente nesse nível de frustração que estamos percebendo”, sensibilizou-se o deputado ao final da visita antes de afirmar que uma das principais atribuições dos deputados é o poder Executivo.

A deputada Janete Capiberibe (PSB/AP) citou as ações que está desencadeando em Brasília, apresentando denúncias da situação precária do sistema público de saúde do Amapá à Câmara dos Deputados e ao Ministério da Saúde. “É preciso agir para defender a vida das pessoas do Amapá. Muita gente já morreu por causa do roubo de dinheiro público e da falta de serviços essenciais. Precisamos punir os culpados pelo desvio de dinheiro ao mesmo tempo em que reabilitamos o atendimento público aos amapaenses”, explicou a parlamentar socialista. A deputada lembra que o descaso com a saúde no estado também resultou em uma epidemia de dengue, com cerca de 20 mil ocorrências registradas.

Deputada apresenta à PGR o caos na saúde do Amapá

Brasília, 27/04/2007 – O procurador geral da República Antônio Fernando Souza recebeu em audiência, nesta sexta-feira, 27, a deputada federal Janete Capiberibe e o ex-senador João Alberto Capiberibe (PSB/AP). Os socialistas apresentaram um relatório com a informações sobre a situação caótica da saúde pública no estado do Amapá, citando os cerca de 20 mil casos de dengue, o sucateamento do Instituto de Nefrologia e a falta de remédios, equipamentos e profissionais. O procurador recebeu depoimentos de usuários do sistema de saúde pública do Amapá colhidos pelo movimento Luto pela Vida.
Segundo a parlamentar, a ineficiência do sistema de saúde foi provocada pela quadrilha que agia na secretaria de saúde do estado, revelada pela Operação Antídoto, da Polícia Federal. Entre os 27 presos pela PF estão dois ex-secretários de Saúde do Estado, Abelardo Vaz e Uilton Tavares.
Depoimentos à Polícia Federal apontam envolvimento de dois deputados federais, os ex-secretários de Estado Sebastião Bala Rocha e Jurandil Juarez. Estima-se que o esquema tenha desviado mais de R$ 40 milhões. “A saúde está em colapso e muita gente está morrendo por causa desse roubo”, protesta a deputada Janete.