quinta-feira, 24 de julho de 2008

Boa tarde!


AINDA EXISTE O AZUL
Isnard Lima

É preciso perfurar o azul que surge em meio do inverno. Olhar para o céu com olhos bem grandes, como quem abraça o mundo pela primeira vez. Olhar para o Alto, na identificação peregrina dos ciganos livres e compreender que, apesar da revolta dentro do mundo, ainda existe Azul e sorrisos de criança na Praça da Alegria. Amar esse Sol de ouro e arrebentar de improviso com as algemas da angústia, a despeito deste amor muito grande que não parte nem desparte, mas se avoluma em ondas e espuma e explode nas areias de um silêncio feito de alegria e dor. Criar de repente um poema para a amada e olhar dentro de seus olhos negros, encontrando a renovação do mistério magnético de luzes que acendem e apagam mas não morrem nunca. E vê-la, a Amada, olhar para a gente como quem descobre um novo ABC. E deixar escorrer entre os dedos alguma coisa parecida com a felicidade. E depois, num beijo muito longo, mandar às favas os que não sabem amar. E assoviar, e apontar a estrela muito bela, que os outros não viram, vir caindo como um poema de ternura que a morte não levou.

Poeta, escritor, advogado e boêmio, Isnard Brandão Lima Filho, meu compadre, nasceu em Manaus em 1º de novembro de 1941 e veio para Macapá em 1949. Publicou dois livros: Rosas para a Madrugada (poemas, 1968) e Malabar Azul (crônicas, 1995). Morreu em 11 de julho de 2002 deixando inacabado um livro de memórias e pronta para a publicação a coletânea poética Seiva da Energia Radiante.