Meu vizinho Janjão
Jota, Jotinha, Dega, Janjão, Deguinha. São os apelidos carinhosos desse vizinho de 77 anos, chamado Euclides João Monteiro que adora ficar chamegando com a mulher Eurydice, tomar uma cervejinha no sábado com o sobrinho Tondo, bater perna nas feiras atrás de um peixe fresco, um bom camarão e caranguejos do Sucuriju.
Janjão faz como ninguém um "avoado". Não sabe o que é isso? É o peixe envolto na folha de bananeira assado na brasa. E sempre traz um pedacinho pra mim.
Aos 77 anos, Janjão vive de bem com a vida e sai pelas ruas da cidade pedalando sua velha bicicleta que ele chama de "maria pretinha". E que ninguém se atreva a mexer na sua bicicleta - ele morre de ciúmes dela.
Este homem querido por toda a vizinhança nasceu na Vigia. Em 1949 veio para o Amapá trabalhar nas minas de Calçoene. Conheceu a professora Eurydice, apaixonou-se, largou a noiva que tinha em Belém e casou. "Em 2009 já vamos fazer 50 anos de casados", conta e tasca um beijo na mulher.
Orgulha-se de ter trabalhado na construção da base espacial de Kourou, na Guiana Francesa, ("Naquela época brasileiro era muito bem tratado e respeitado na Guiana", diz) e na hidrelétrica do Paredão aqui no Amapá.
Pouca gente sabe - e por isso eu faço questão de registrar - que era Janjão, que junto com Cutião, construía a famosa boneca da Banda todos os anos e ainda dançava debaixo dela.
Lembro uma vez que Janjão fez todo o percurso da Banda com um único tira-gosto: uma pata de caranguejo. Lá pelo meio do percurso o tira-gosto dele já não tinha gosto de nada, mas ele não largava.
Ah, esse Janjão. Aí tem muita história.
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