Japonês corre o risco de virar morador de rua
No ano em que se comemora o centenário da migração japonesa, o sexagenário Massao Fukada corre o risco de virar morador de rua em Macapá.
A vinda de Massao para o Brasil está ligada à destruição de Hiroshima. Vítima da guerra, sua tia Mineko Hayashida veio para o Brasil. Não sei em que ano ela chegou aqui, mas lembro-me dela no pátio de nossa casa contando para minha mãe que tropeçava nos cadáveres procurando corpos de parentes que foram mortos pela bomba de Hiroshima.
Aqui no Amapá, Mineko refez sua vida. Tornou-se professora, lecionou em várias escolas e um dia resolveu abrir uma lanchonete de comidas japonesas, na esquina da Almirante Barroso com a Hamilton Silva. Para ajudá-la na empreitada mandou buscar em Hiroshima, em 1976, o sobrinho Massao Fukada – que fazia o melhor sanduíche natural que já comi em toda minha vida.
“Snack Hiroshima” era esse o nome da lanchonete. Foi um sucesso! Era a mais conhecida e mais freqüentada do Amapá.
Mineko morreu. Acho que está fazendo uns 20 anos. Massao continuou tocando o estabelecimento, manteve a freguesia, fez benfeitorias tanto no prédio comercial como na residência. Foi assaltado várias vezes, levou tiro e um dia sofreu um derrame. A partir daí não teve mais condições de trabalhar. Alugou o prédio para um mini-box e sobrevive com algo em torno de R$ 400 mensais. E dizem que o mini-box passa meses sem pagar. Mora sozinho, com uma filha de 16 anos na casa, e sempre que precisa a vizinhança está pronta para socorrê-los.
Apesar de estar há 32 anos no Brasil, Massao não lê nem escreve uma palavra em português.
Ele conta que certo dia Tereza Hayashida, filha de Mineko – portanto, sua prima – foi a casa dele pedindo que ele assinasse um papel, que aquilo se tratava de um documento para dar entrada num pedido de aposentadoria junto ao INSS. E ele assinou. Só mais tarde foi saber que se tratava de um contrato de aluguel. Com este contrato sua prima foi à Justiça e moveu uma ação de despejo. A vizinhança testemunhou a favor de Massao, garantindo que ele sempre morou ali, nunca foi inquilino e fez benfeitorias.
Mas para surpresa de todo mundo na sexta-feira à tarde um caminhão pára na frente da casa de Massao e um oficial de Justiça informa que ele seria despejado naquele momento. Massao chorou, disse nunca ter pensado que depois de tantos anos de trabalho e agora doente e idoso tivesse que ir morar na rua com sua filha menor. A vizinhança se revoltou. Chamou advogado e a imprensa e conseguiu evitar o despejo. Ninguém arredou pé dali – nem vizinhos nem jornalistas – antes das 18h. Como se sabe depois das 18h ninguém pode ser despejado e nem no final de semana. Mas não se sabe o que pode acontecer hoje.
O advogado Waldeir Ribeiro está defendendo Massao. Ele diz que a ação da prima não procede de jeito nenhum porque ele nunca foi inquilino. Disse também que vai mover uma ação contra Tereza por ter usado de má-fé com Massao, quando fez com que ele assinasse um documento dizendo ser para aposentadoria e era um contrato de aluguel. Ele disse ainda que Tereza pode ser responsabilizada criminalmente por ter induzido a Justiça ao erro.
O advogado também vai pedir judicialmente que Tereza assuma o sustento de Massao, já que ele é idoso, doente e ela é a única parenta que ele tem, à exceção da filha – que é menor.
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