Antídoto
Só pra lembrar...
Em 2004 o Ministério Público do Estado divulgou levantamento mostrando que 70 pessoas morreram por falta de medicamentos e equipamentos nos hospitais públicos de Macapá, no período de janeiro a setembro daquele ano. O governo negou que os óbitos fossem em função da falta de remédios. Em 2006, os deputados estaduais Rui Smith e Randolfe Rodrigues denunciaram ao Ministério Público que havia roubo de medicamentos da Central de Abastecimento Farmacêutico, o governo reuniu a imprensa, confirmou que mais de 30 mil frascos de antibióticos e cinco mil caixas de antinflamatório – avaliados em R$ 300 mil - foram desviados e prometeu prender os envolvidos “nos próximos dias”. Não prendeu ninguém. No mesmo ano 12 crianças morreram em menos de duas semanas no Hospital Infantil, o governo negou que fosse falta de medicamentos, disse que as crianças já deram entrada naquele hospital em estado extremamente grave. Ainda em 2006, uma denúncia anônima levou o Ministério Público a descobrir, num terreno fora da área urbana de Macapá, uma tonelada de remédios queimada.
No ano anterior, 2005, uma auditoria do Ministério da Saúde já havia detectado erros graves na compra e no controle de medicamentos por parte do governo do Amapá.
Mais atrás, em 2004, o então senador João Capiberibe (PSB-AP), denunciava no Senado o desvio de recursos do SUS no Amapá. Em dezembro daquele ano, ele fez um discurso pedindo intervenção federal no Amapá. “Apresentei aqui várias denúncias e até agora e não obtivemos resultados concretos. Volto a insistir: a situação do sistema de saúde no Estado do Amapá agravou-se de tal forma que, acredito, a única alternativa que nos resta é uma intervenção do Ministério da Saúde. Como na origem dos problemas está o mal uso dos recursos do SUS, verbas federais portanto, a intervenção me parece viável tanto do ponto de vista legal quanto do ponto de vista técnico”, discursou.
Como não há mal que sempre dure, a Polícia Federal começou a aplicar semana passada um antídoto e já prendeu quase 30 pessoas que fazem parte do bando que afanava o dinheiro dos medicamentos.
Depoimentos e gravações de conversas telefônicas mostram que, além dos presos, tem muito mais gente envolvida nessa ladroagem.
O QUE DIZ DILTON FERREIRA
O empresário que denundiou o esquema, fez denúncias gravíssimas.
Dilton era sócio de Nivaldo Aranha da Silva, na Globo Distribuidora – uma das empresas que mais vendeu para governo nesse esquema. Era ele quem assinava os cheques e pagava as propinas até dezembro de 2005 quando foi excluído da sociedade.
Cem mil
Ele afirma que nunca passou nada diretamente para o governador, “sempre o fazia através de Braz, a quem chegou a entregar R$ 550 mil de uma vez só - e Joel (Joel Nogueira, servidor de carreira do TCU, e secretário de estado do Planejamento), mas que seu sócio Nivaldo chegou a fazer um depósito de R$ 100 mil na conta do governador e depois estornou para entregar em espécie.
Bala pro Bala
Ele conta também que o atual deputado federal Sebastião Rocha (PDT), secretário de Saúde no primeiro mandato de Waldez Góes, também recebia propinas de Nivaldo e do próprio Dilton. Um dos pagamentos de propina feito por ele a Rocha foi num shopping da cidade, no valor R$ 35 mil. Esta não é a primeira vez que Rocha tem seu nome envolvido em falcatruas. Em novembro de 2004 ele foi preso, algemado e levado no camburão para a carceragem na PF, durante a Pororoca – uma operação que desmontou uma quadrilha que fraudava licitações de grandes obras com recursos federais.
Comunhão de bens
Sobre o segundo secretário de saúde do governo Waldez Góes, Uilton Tavares, Dilton diz que ele recebia a propina através de sua esposa Fabíola Serrano (ela está com prisão decretada, mas está internada no Hospital da Unimed em Macapá).
Escutas
Nas escutas telefônicas feitas pela PF com autorização judicial aparece também o nome do deputado federal Jurandil Juarez (PMDB). Ele era secretário de Planejamento. Numa conversa entre Braz e um homem não identificado (HNI), Braz diz que colocará Haroldo em contato com Jurandil Juarez para que as coisas caminhem mais rápido e que já falou com Jurandil para agilizar o pagamento da JR Hospitalar e dá a entender que o governador sabe de tudo.
Braz (...) eu avisei o Jurandil ontem, é a JR essa aqui (...) O governador também já foi comunicado
HNI (...) Negócio do orçamento deu tudo ok, né (...) do VEP?
Braz (...) Ah ta, deu tudo ok
HNI – Só que o homem... meu amigo a gente tem que sentar e conversar viu... o chefe vai ter que chamar o “caboco” porque ele vai ter problemas com o Tribunal
Braz – Todo mundo armou na verdade: o Tribunal, o Ministério Público, todo mundo armou.
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