sexta-feira, 1 de junho de 2007

Poetas do Amapá

BOA NOITE, POEMA
Paulo Tarso Barros
Boa noite, poema.
Uma lua sequer
há no céu dessa cidade,
mas no rio noturno
onde abasteço meu ser
os peixes desenham
um arco-íris aquático.
(Do livro Inventário das Buscas)

LIRISMO
Alcy Araújo Cavalcante
Não,
eu não te darei um mal-me-quer.
Eu te darei
uma rosa de todo ano
e uma estrela
e uma lua branca
muito branca
um lírio
- porque os polichinelos ficaram inanimados
no bazar.

Depois
farei o poema do nosso primeiro beijo
recostarás tua cabeça no meu peito
e meus dedos compridos
acariciação os teus cabelos
e Deus saberá que nós estamos nos amando
porque haverá luz
e um grande silêncio
no pensamento das coisas.
(Do livro Autogeografia)

NOTÍVAGO URBANO
Manoel Bispo Corrêa
Tateando as paredes da noite
em busca do elo perdido
os dedos do homem anonimado
tocam partituras de silêncios
na impossibilidade previsível
de contar em seus limites
tamanho desconforto e solidão.
(Do livro Canto dos meus cantares)

PLATÔNICO
Obdias Araújo
Eu te desejo
Te dispo
imagino
te vejo
te visto novamente
e te desejo.
Nem sei porque
mas te desejo
Não existe motivo
: não morro
não vivo
não bebo
nem como
às expensas de ti
mas te desejo
Te amo
Te como com unhas e dentes
com olhos e mentes
e cada vez mais
dia após dia
eu te desejo
(Do livro Praça Pinga Poesia & Mágoa)

CARTA
Arthur Nery Marinho
Esperei por você. Você não veio.
Eu fiquei triste, mas não disse nada.
É que o silêncio é bom. Boca calada
é prudência e não quer dizer receio.

Aprendi a ser só. A tudo alheio
não procuro saber se a madrugada
de amanhã surgirá embraseada,
ou se terá um horizonte feio.

Sou hoje aquele que no fim da tarde
se vai embora, sem nenhum alarde
e quase sempre caminhando a esmo.

E se alguém me pergunta onde é que moro,
prego mentira e de vergonha coro,
pois não moro nem dentro de mim mesmo.
(Do livro Sermão de Mágoa)