quinta-feira, 31 de julho de 2008

Curso de medicina - a palavra do reitor da Unifap

O reitor da Universidade Federal do Amapá, José Carlos Tavares, não gostou nenhum pouquinho – e com razão – do artigo assinado pelo presidente do Conselho Regional de Medicina, Dardeg Aleixo, na última edição do boletim do Conselho. Para esclarecer os fatos, o reitor mandou uma carta ao editor do boletim pedindo direito de resposta.
E eu publico aqui no blog porque acho que o reitor José Carlos Tavares está coberto de razão e também porque, como milhares de amapaenses, defendo a implantação do curso de medicina no Amapá – único estado brasileiro que ainda não possui esse curso.
Eis o que escreveu o reitor:


“1. É dado a todo cidadão brasileiro o direito constitucional de criticar quaisquer situações ou atos praticados pelo poder público e, por isso, achamos relevante a preocupação do articulista em dizer que a sua motivação em combater a criação de novas faculdades de medicina no Brasil “não é causada por uma reserva de mercado, ao contrário, fundamenta-se na má qualidade do ensino ofertado por essas faculdades”. Ele diz ainda que “sabemos que por trás da abertura sem critérios das faculdades abertas (...) estão os mercadores do ensino e sua ligação com políticos inescrupulosos”, além de enfocar que o “ensino da medicina não pode ser comparado com o ensino de qualquer outra profissão”, além de dar uma porção de informações relacionadas ao ensino da medicina no Brasil.
2. O insigne articulista também diz que “defendemos uma faculdade de medicina para o Amapá, mas que seja de qualidade, não esse arremedo de faculdade que alguns, sem responsabilidade social, pretendem implantar açodadamente e, com isso, se beneficiar nas urnas eleitorais”. Fala, ainda, que o modelo de aprendizagem a ser implantado é obsoleto e barato e, arremata, que ”é uma irresponsabilidade a argumentação utilizada por aqueles que defendem a implantação da faculdade e depois melhoramos e resolvemos os problemas” (sic). Adiante o articulista prevê o que vai acontecer com os futuros médicos formados pela UNIFAP.
3. Mas é com a fúria da leviandade que o eminente articulista informa que “A UNIFAP padece cronicamente de recursos financeiros e muitos cursos que nada gastam já quase foram extintos. O pincel atômico para os professores escreverem são doados (sic) pelos alunos, papel para a prova é o aluno que traz de casa. E ainda pensam em criar uma faculdade de medicina...”. Além disso, o sr. Dardeg A. Aleixo critica o Governo Federal (MEC) pelo “modelo (PBL) que está sendo imposto como única forma de receber autorização para implantação da faculdade de medicina”, e os parlamentares amapaenses, por estarem silentes, por serem covardes e não terem o bom senso de se manifestar publicamente ao contrário. O distinto articulista não poupa críticas ao “médico do SUS, para os quais bastam conhecimentos de assistência básica à saúde” nem ao Governo do Estado (SESA) que “assinou protocolo disponibilizando o Hospital de Especialidades para servir de hospital escola”. E abaixo faz uma radiografia do sistema de saúde estadual, ao informar que todo o aparelhamento médico do HE está quebrado, que não há leitos disponíveis e nem material suficiente para o atendimento mínimo, ou seja, que as “terríveis condições” são as encontradas no quadro real da medicina do Estado.
Senhor Editor,
Dada essa situação provocada pelo sr Dardeg Aleixo nos manifestamos extrajudicialmente lamentando tal atitude, posto que suas afirmações são puramente mentirosas, irrefletidas e deletérias para o Ensino Superior do Amapá. Infundadas e sem sentido de alcance social. São, também, ilações ordinárias, alimentadas de sofismas de quem está totalmente descomprometido com o desenvolvimento social e político do nosso estado, e mais ainda, com a educação amapaense.
Como se sabe – é público e notório - a questão da implantação da faculdade de medicina na UNIFAP tem, sim, critérios políticos. Ela se origina dos anseios populares e estudantis desde os tempos do extinto Território Federal do Amapá, passando pelas mais diversas discussões em seminários, congressos, projetos e lutas intrépidas, onde diversos atores sociais e políticos desempenharam os papéis que lhes couberam naqueles momentos. Bem ou mal, mas representaram e encaminharam os anseios e as esperanças da nossa juventude, ávida pela possibilidade de ajudar o estado a melhorar suas condições de saúde e salubridade.
Talvez saiba o Sr. Dardeg Aleixo que o Amapá é a única unidade da federação a não possuir um curso de medicina. Talvez não saiba o sr. Darged Alixo que todos os amapaenses médicos lutaram bravamente para se formar lá fora, a maioria em faculdades públicas, passando necessidade, pois muitas vezes o que lhes cabia para a alimentação era trocado por um livro de medicina, tanta era a fome do conhecimento e da garantia da responsabilidade de se tornarem bons profissionais no futuro.
Xenofobia à parte, senhor editor, durante décadas os amapaenses foram dirigidos por mentes que nos impuseram o que não queríamos, por pessoas arrogantes que ditavam regras absurdas e diziam “o que era melhor para os amapaenses”, ofendendo as nossas condições de seres humanos e donos de nossos destinos. Foi assim com o desmembramento do estado do Pará, com a transformação do Amapá em Estado, com a criação da Universidade Federal do Amapá e com outras inúmeras decisões nas quais os interesses dos mandatários sobrepujaram o interesse coletivo e trouxeram prejuízos irreparáveis ao povo amapaense. E assim neste quadro surge mais um retardatário da ditadura a querer nos ditar o que não queremos, e nem precisamos ouvir.
O articulista de vosso jornal, ao fazer comentários sobre o que significa a implantação do curso de medicina pela UNIFAP contradiz-se na sua empáfia “científica” e “intelectual” ao tentar prever o que acontecerá aos médicos que se formarão. Ora, que critérios os levam a colocar, como se diz popularmente, o carro na frente dos bois, quando, num arroubo de desprezo pela medicina, numa contradição às leis científicas, prevê como uma vidente as mortes e os processos na justiça e no CRM, por futuros médicos formados pela UNIFAP que ainda nem ao menos se classificaram no processo seletivo que ainda não houve. Comentário assaz surrealista e enganador. Uma falácia. Um poço de leviandades.
Ora, senhor editor, que a Universidade Federal do Amapá tem poucos recursos, nós sabemos; que alguns cursos necessitam de mais professores, nós concordamos. Mas não podemos admitir a irresponsabilidade de pessoas como o sr. Dardeg Alixo em criticar sem fundamentos, em deduzir sem dados verdadeiros e, de principalmente achincalhar os políticos que nos defendem e que trazem para esta IFES os aparatos técnicos e estruturais que necessitamos para crescer. Afinal quem detém o poder são os políticos, e os que querem um Amapá melhor têm feito o seu trabalho e nos ajudado. E a despeito de outros dardegs a UNIFAP cresceu substancialmente, sem que façamos alarde disso na imprensa, pois o que fazemos é para o bem da sociedade amapaense e para o engrandecimento científico e educacional da Amazônia. Da mesma forma o curso de medicina será implantado e dirigido por professores e profissionais da medicina preparados e competentes, para que possamos realizar mais um sonho da juventude amapaense.
Não podemos esquecer que a crítica que o articulista faz ao sistema médico do estado, ao referir-se à disponibilidade deste para servir de hospital escola, é espantosa, pois se não nos enganamos é de responsabilidade do CRM interferir sobre as más condições do sistema e de lutar para melhorá-lo. Se não o faz, se só critica, é um problema de gestão. E aí cabe perguntar, usando as palavras que o mesmo utilizou: que futuros doentes sobreviverão nessas terríveis condições, já que os médicos atuais nada podem fazer por eles?
Cabe então, senhor editor, dar oportunidade ao futuro, porque o texto publicado é irresponsável, é leviano e imagético. É produto falaz de quem não tem o compromisso educacional e científico que a UNIFAP tem. Afirmamos, pois, que a UNIFAP tem condições técnicas, metodológicas, financeiras e educacionais competentes para que se implante o curso de medicina no Amapá, não apenas para preencher a lacuna que falta na federação brasileira, mas para dotar o Amapá de profissionais competentes que possam sim, preencher as suas necessidades medicinais e, quem sabe, cargos importantes e respeitáveis que compreendam o sonho amapaense de se libertar gradualmente dos grilhões daqueles que querem ver nossa terra sempre de forma pessimista.
Sr. Editor,

Ainda que o artigo (do latim, articulu, que também significa objeto de negócio, mercadoria, segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Ed. Nova Fronteira. Rio, 1986,pág. 177) do dr. Dardeg S. Aleijo seja uma crítica acerba, no fundo mais se assemelha a um parecer encomendado politicamente para afetar o justo “sonho de centenas de jovens que almejam serem médicos”, para usar suas próprias palavras. O artigo nos parece, é produto embalado, e busca um objetivo resiliente e multifacetado na sociedade e para a sociedade. Traz a pífia triste empáfia de que ”o ensino da medicina não pode ser comparado com o ensino de outras profissões”. Traz em seu bojo o perfume cruel daqueles que não querem que o nosso estado cresça, ao impor o lastro de suas frustrações. Traz, enfim, a tentativa do desânimo, algo que passa longe da UNIFAP, pois temos a certeza que o povo e os políticos comprometidos com o Amapá não comungam com a posição retrógrada de vosso articulista e de vosso conceituado jornal.
Cordialmente,
Prof. Dr. JOSÉ CARLOS TAVARES CARVALHO
Reitor da UNIFAP"

José Carlos Tavares é
. Pós-Doutor em Farmacologia Clínica pela Frei Universität Berlin – Alemanha
. Doutor em Farmacologia pela Universidade de São Paulo – USP
. Mestre em Fármacos e Medicamentos pela USP/Ribeirão Preto- SP
. Especialista em Homeopatia pelo Instituto Homeopático François Lamasson
. Pesquisador 1C do CNPq
. Membro da Farmacopéia Brasileira – ANVISA - Ministério da Saúde
. Avaliador do INEP-MEC para cursos da área da saúde (Medicina, Farmácia e odontologia).