quinta-feira, 17 de maio de 2007

Operação Navalha

A Polícia Federal deflagrou hoje de manhã a Operação Navalha para desarticular uma organização criminosa que atuava desviando recursos públicos federais nos Estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Sergipe, Pernambuco, Piauí, Maranhão, São Paulo e no Distrito Federal.
A Operação mobilizou 400 policiais federais para cumprir 43 mandados de prisão e 84 mandados de busca e apreensão, todos decretados pela ministra Eliana Calmon do Superior Tribunal de Justiça.
Entre os presos estão:
Ivo Almeida Costa, assessor especial do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau
Roberto Figueiredo Guimarães, presidente do Banco Regional de Brasília
José Reinaldo Tavares, ex-governador do Maranhão
O deputado distrital por Brasília Pedro Passos (DF), ex-sócio do senador Joaquim Roriz na criação de cavalos de raça
Flávio José Pin, superintendente de produtos de repasse da Caixa Econômica Federal
João Alves Neto, filho do ex-governador de Sergipe João Alves.
O empresário Zuleido Soares Veras, dono da empresa Gautama
Luiz Caetano (PT), prefeito de Camaçari (BA)
Nilson Aparecido Leitão (PSDB), prefeito de Sinop (MT)

AH, SE A NAVALHA PASSASSE POR AQUI
No centro das investigações está a construtora Gautama - com sede na Bahia - que tem negócios no Amapá.
A Gautama é responsável pela construção do novo aeroporto internacional de Macapá, com recursos provenientes de emenda do senador José Sarney (PMDB-AP).
Em setembro do ano passado, o Tribunal de Contas da União encaminhou ao Congresso Nacional uma lista de 89 obras públicas custeadas com recursos federais com indícios de irregularidades graves.Entre essas obras está o novo aeroporto internacional de Macapá - uma das poucas obras que Sarney conseguiu para o Amapá em 16 anos de mandato.

A auditoria do TCU identificou problemas tanto nas licitações quanto na execução dos contratos. O relatório aponta sobrepreço, superfaturamento e subcontratação. Houve também, restrição indevida de participantes, indícios de conluio e direcionamento entre licitantes pré-qualificadas na concorrência. Ao tomar conhecimento do relatório do TCU, o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) disse ao Jornal do Senado (edição de 8 de novembro de 2006) que estava muito preocupado, pois, segundo ele, teriam sido desviados recursos da ordem de R$ 50 milhões, causando sérios prejuízos ao estado e à população amapaense.

No dia 26 de setembro - pouquíssimos dias antes do pleito eleitoral - a reportagem do jornal Folha de S.Paulo flagrou carro e funcionários da Infraero no comitê de Sarney. Na edição do dia seguinte, 27, publicou esta matéria:
"Carros oficiais são vistos diante do comitê de Sarney
Mário Magalhães
Enviado especial a Macapá
Dois carros chamavam a atenção ontem de manhã em frente ao comitê eleitoral do candidato à reeleição ao Senado José Sarney (PMDB-AP), no bairro de Santa Rita, em Macapá. O do Ministério da Saúde tinha a inscrição "Vigilância em Saúde". O da Infraero, empresa pública vinculada ao Ministério da Defesa, "Uso exclusivo em serviço". Os passageiros estavam no comitê. A legislação veta o uso de veículos oficiais em campanha eleitoral.

A possível irregularidade flagrada pela Folha não é única. Até anteontem o serviço telefônico instalado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amapá recebera cerca de 1.200 denúncias -uma para cada 301 eleitores (são 360.614 no Amapá). Até agora a Procuradoria Regional Eleitoral eleitoral de São Paulo recebeu 200 via internet.
O disque-denúncia foi criado para avisos de ilegalidades na propaganda, mas 50% dos chamados cita compra de votos.
Os casos são tantos que o procurador regional eleitoral, Paulo Roberto Olegário de Souza, empregou um neologismo em uma ação contra o governador Waldez Góes (PDT), que busca se reeleger pela mesma coligação de Sarney: "almoçomício", o comício com distribuição gratuita de comida.
No domingo, foram apreendidos envelopes com dinheiro que serviriam, conforme suspeita da PF, para pagar a atividade proibida de boca-de-urna.
O automóvel do Ministério da Saúde diante comitê de Sarney era um Chevrolet, com placa "Brasil - NEX 7623". Na parte externa, estampava o slogan "Um Brasil de Todos". O da Infraero, uma caminhonete Toyota, placa "Macapá NEP 4478". Dois homens que estiveram no comitê portavam crachá da Infraero.
Até ontem o TRE não havia recebido denúncia sobre os carros."