segunda-feira, 9 de junho de 2008

Feijão Mussunga

- Hoje é feijão mussunga, anunciava minha mãe na hora do almoço.
E a gente fazia aquela carinha de desprezo, mas não tinha jeito. Ou comia ou não brincava. Entre ficar o resto do dia trancados em casa e comer mussunga, claro que eu e meus irmãos ficávamos com a segunda opção.


Nunca tive a curiosidade de procurar no dicionário o significado da palavra mussunga. Quem sabe faça isso agora?

O amapaense, como todo brasileiro, come feijão todos os dias. Mas nas bandas de cá feijão tem que ter charque e calabresa. Se tiver uns pedacinhos de bacon ou de bucho, melhor. Quanto mais entulho, melhor ainda. O que não vale é o feijão cozido só na água, sal, cebola, tomate, chicória e algumas folhas de couve. Esse tal de feijão mussunga (argh!) ninguém merece.

Nunca soube os motivos que levavam mamãe a volta e meia nos servir feijão mussunga. Falta de dinheiro para comprar os ingredientes? Falta de tempo para ir ao armazém? (Naquela época ainda não havia supermercado por aqui). Ou estaria ela tentando nos acostumar a ingerir menos venenos? Ela nunca explicou e nós nunca perguntamos. Mãe a gente não questionava. Só obedecia.

Pois bem. Há algum tempo decidimos aqui em casa ir eliminando devargazinho os venenos de nossa alimentação. Diminuímos consideravelmente os enlatados e embutidos. Galinha só de quintal (desses frangos de supermercado cheios de hormônios e antibióticos passamos longe). No nosso quintal fizemos uma modesta horta, assim pelo menos uma pequena parte das verduras e legumes que ingerimos não têm agrotóxicos. A horta ainda é pequenina, tem pouca coisa, mas já é um bom começo. E assim, a cada dia, a gente busca melhorar um pouquinho nossa alimentação. Agora chegou a vez de mexer no feijão, fazê-lo mais saudável.

Feijão com charque, calabresa, bacon e outras porcarias só será permitido uma vez por semana, depois só uma vez por mês, até chegar o dia em que ele sumirá definitivamente de nossa mesa.

Hoje é nosso primeiro dia de feijão mussunga. A responsabilidade de fazê-lo coube a mim. Filho e marido ficam na expectativa. Enquanto escrevo o mussunga ta lá fervendo na panela. Depois eu conto pra vocês se ficou bom ou não.