De Ray Cunha, no Enfoque Amazônico
Brasília - Jornalismo é meu ganha pão desde 1975, quando entrei nessa tribo como repórter policial do Jornal do Commercio de Manaus. Atualmente, cubro os labirintos do Congresso Nacional. Quando o miasma que paira na Esplanada se torna sufocante demais, refugio-me no riso de uma criança, em Amadeus Mozart, no anoitecer, nas mulheres que perfumam os corredores do Conjunto Nacional, em Macapá - que guardo no relicário do meu coração -, na minha estante - onde guardo bruxos chineses, diamantes, rosas e Chanel Número 5. Esses ingredientes atuam como se Deus arrumasse a manhã para a mulher mais bonita do mundo passar.
Basta, por hoje, de ratos, de sanguessugas, de carrapatos, de vermes, de protozoários, de politicalha; basta de 14 mil quilômetros quadrados da Amazônia devastados a motosserra e fogo; basta de hipocrisia, de mentira. Devolvam o riso e as flores.
Percorri as prateleiras da minha estante e pedi à Alcinéa Cavalcante, que também é jornalista e sabe da minha angústia, que me socorresse, pois ela é um anjo. Então, com a ternura e o carinho de sempre, a poeta me ensinou que apesar do aborto provocado, que apesar do horror da fome, que apesar do pedregulho atirado com toda a força no rosto, apesar da terçadada, apesar do grito de pavor da criança, apesar do político que rouba merenda escolar, apesar do parlamentar que emprega seus parentes com dinheiro público, apesar do trem da alegria em detrimento dos concursados, apesar do assassinato da Amazônia, apesar da censura, há, na estante, bruxos chineses, diamantes, rosas e Chanel Número 5.
Então, a poeta me levou à Estrela Azul e me deu sete poemas. Eu dei a ela, um.(Leia mais)
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