quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Há 38 anos era lançada a revista Latitude Zero

Estou folheando mais uma vez o primeiro número da revista “Latitude Zero”, lançada em agosto de 1969 pelos jornalistas e poetas Ezequias Ribeiro de Assis e Alcy Araújo Cavalcante.
Neste primeiro número, a revista dá início a um debate sobre a necessidade de se implantar o ensino superior no então Território do Amapá, denuncia a pesca clandestina na costa amapaense, publica lendas, crônicas, contos e poesias, deixando claro que o maior espaço da revista seria dedicado à cultura. “As nossas páginas estão abertas ao talento jovem. Poetas como Carlos Nilson, Aldony Araújo, Alcinéa Cavalcante, Manoel Bispo, Ernani Marinho, Ronaldo Bandeira e outros se reunirão em Latitude Zero”, informava o editorial de apresentação da revista.
Numa matéria sobre o verão e tudo que rolou no mês de julho na Fazendinha – a mais famosa praia de Macapá -, a revista diz que compreende porque o poeta Alcy Araújo declarou não ter o menor desejo de ir à lua, “onde não existe coqueiro, nem flor, nem sorriso de moça bonita. A Fazendinha tem tudo isto”.
A revista era editada por Ezequias Ribeiro de Assis e tinha como redator-chefe Alcy Araújo. Trabalharam nela Antonio Munhoz, Wilson Sena, Cordeiro Gomes, Arthur Marinho, Agostinho Souza, José Jeová, Hernani Marinho, Aldony Araújo, Aluízio Cunha, Derossy Araújo, Luiz Augusto Freire, Isaac Uchoa e Osmar Marinho, além de Graça Viana, que fazia a coluna social.
No editorial de apresentação, Ezequias explicou que escolheu para título Latitude Zero “numa justa homenagem aos que criaram no Território (do Amapá) a primeira revista independente que circulou na área”. Era a Latitude Zero criada por Álvaro da Cunha, Marcílio Viana e José Pereira da Costa, no final da década de 40.
Como a primeira “Latitude Zero”, a de Ezequias Assis também teve vida efêmera.
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Um dos poemas publicados no número 1 da revista Latitude Zero:
MEU CANTO
Manoel Bispo

Meu canto existirá
porque para os meus pés sacrificados
ainda existe um caminho.
Meu canto existirá
porque o pássaro é liberto
apesar dos muros e dos homens.
A rosa e o perfume,
a criança, o sorriso, a luz
sempre estarão no meu canto.
Ele será como um trigal maduro,
simples e significativo
e existirá por esta multidão de coisas
que me cercam.
Meu canto existirá,
apesar de mim.
(Manoel Bispo é professor, poeta, escritor, artista plástico e compositor)