13 de Setembro - Feriado no Amapá
Reproduzo hoje aqui esse texto que publiquei no meu antigo blog (o alcinea.zip.net) há dois anos.
LEMBRANÇAS DO 13 DE SETEMBRO
Milhares de estudantes estarão desfilando hoje na avenida Ivaldo Veras em comemoração a mais um aniversário da criação do Território Federal do Amapá. No desfile de hoje, os estudantes vão mostrar um pouco da cultura amapaense. Mas nada que se compare aos desfiles que aconteciam antes da elevação do Amapá à categoria de Estado, em outubro de 1988 com a promulgação da chamada “Constituição Coragem”.
Naquela época, o desfile alegórico de 13 de setembro era o grande acontecimento do ano. Havia uma disputa acirrada entre os quatro maiores colégios: Colégio Amapaense (C.A.), Instituto de Educação (Ieta), Ginásio de Macapá (GM) e Colégio Comercial (CCA).Os preparativos começavam na primeira semana de agosto, com ensaios das bandas musicais e marciais, ensaios dos pelotões, confecção dos figurinos e das alegorias. As aulas ficavam em segundo plano. O importante era se preparar para o desfile e ganhar o título de campeão, que sempre ficava com o GM ou com o C.A.
O GM era um ginásio orientado para o trabalho onde se aprendia marcenaria, carpintaria, eletrotécnica, mecânica, entre outros ofícios. Por conta disso, sempre apresentava as melhores alegorias. Inesquecível, por exemplo, uma das alegorias de 1970, quando a seleção brasileira ganhou o tricampeonato mundial de futebol e este foi o tema do GM, que levou para a avenida um globo girando e rodando a gravação do jogo do Brasil contra a Itália.
A disputa era tão acirrada que os ensaios dos pelotões de evolução eram feitos escondidos. As balizas também treinavam longe dos olhos dos adversários. Eu, que fui baliza durante muitos anos do Colégio Amapaense, na semana do desfile fazia meu treino de madrugada na avenida Fab.
Naqueles 13 de setembro tão logo o sol nascia a cidade se vestia todas as cores. A partir das seis da manhã, os estudantes rumavam para a concentração. E os pais vaidosos e orgulhosos também saiam cedo de casa para pegar os melhores lugares nas arquibancadas.
Mas nem tudo era alegria. Anunciado o resultado o pau quebrava. Ninguém queria reconhecer a vitória do adversário e os estudantes trocavam socos, pontapés e pedradas – alguns iam até parar no pronto-socorro – e o corpo de jurados era saudado com os mesmos adjetivos usados para os árbitros de futebol.
Milhares de estudantes estarão desfilando hoje na avenida Ivaldo Veras em comemoração a mais um aniversário da criação do Território Federal do Amapá. No desfile de hoje, os estudantes vão mostrar um pouco da cultura amapaense. Mas nada que se compare aos desfiles que aconteciam antes da elevação do Amapá à categoria de Estado, em outubro de 1988 com a promulgação da chamada “Constituição Coragem”.
Naquela época, o desfile alegórico de 13 de setembro era o grande acontecimento do ano. Havia uma disputa acirrada entre os quatro maiores colégios: Colégio Amapaense (C.A.), Instituto de Educação (Ieta), Ginásio de Macapá (GM) e Colégio Comercial (CCA).Os preparativos começavam na primeira semana de agosto, com ensaios das bandas musicais e marciais, ensaios dos pelotões, confecção dos figurinos e das alegorias. As aulas ficavam em segundo plano. O importante era se preparar para o desfile e ganhar o título de campeão, que sempre ficava com o GM ou com o C.A.
O GM era um ginásio orientado para o trabalho onde se aprendia marcenaria, carpintaria, eletrotécnica, mecânica, entre outros ofícios. Por conta disso, sempre apresentava as melhores alegorias. Inesquecível, por exemplo, uma das alegorias de 1970, quando a seleção brasileira ganhou o tricampeonato mundial de futebol e este foi o tema do GM, que levou para a avenida um globo girando e rodando a gravação do jogo do Brasil contra a Itália.
A disputa era tão acirrada que os ensaios dos pelotões de evolução eram feitos escondidos. As balizas também treinavam longe dos olhos dos adversários. Eu, que fui baliza durante muitos anos do Colégio Amapaense, na semana do desfile fazia meu treino de madrugada na avenida Fab.
Naqueles 13 de setembro tão logo o sol nascia a cidade se vestia todas as cores. A partir das seis da manhã, os estudantes rumavam para a concentração. E os pais vaidosos e orgulhosos também saiam cedo de casa para pegar os melhores lugares nas arquibancadas.
Mas nem tudo era alegria. Anunciado o resultado o pau quebrava. Ninguém queria reconhecer a vitória do adversário e os estudantes trocavam socos, pontapés e pedradas – alguns iam até parar no pronto-socorro – e o corpo de jurados era saudado com os mesmos adjetivos usados para os árbitros de futebol.
A PASSEATA DE PROTESTO DE 1968
Havia até passeata de protesto contra o resultado. Lembro-me de uma em 1968. Eu tinha 12 anos e era baliza do Colégio Amapaense. Perdemos para o GM. Não aceitamos o resultado. Vivíamos em plena ditadura. Um grupo de estudantes do curso científico, com idade média de 18 anos, entre eles Bonfim Salgado, Jorge Armando e Stélio Amaral, teve a idéia de fazer uma passeata de protesto. O protesto contra o resultado era a desculpa pra se fazer um protesto contra o regime. Com o apoio do diretor Tinilo compraram peças de pano roxo e nelas pintaram frases que serviam tanto para protestar contra o resultado como contra a ditadura.
E saímos pelas ruas, a banda tocando marcha fúnebre. E fazíamos discursos. Na frente da sede do grêmio estudantil Rui Barbosa – que o governo tinha fechado e tomado – subimos no muro e discursamos. Eu, com 12 anos, era chamada pra discursar e repetia, com outras palavras, o que os mais velhos haviam dito. Na verdade, eu nem sabia o que estava falando. Quem, aos 12 anos, naquela época poderia entender de política? Acontece que meu pai era alto funcionário do governo, daí até hoje acho que fui usada pelos colegas mais velhos como uma espécie de proteção a eles.
A polícia seguiu a passeata, nos fotografou e na metade do percurso nos fez debandar.No dia seguinte, reveladas as fotos, a polícia começa a chamar os participantes para "prestarem esclarecimentos". Quando os primeiros foram chamados, meu pai entrou na parada e convenceu o governador que não éramos subversivos, éramos apenas jovens. E como todos os jovens tínhamos nossas rebeldias. Ninguém mais foi chamado e ninguém foi preso.
Ah, o Bonfim Salgado – que trabalhava na Rádio Educadora – conseguiu um enorme gravador para registrar nossos discursos. A polícia foi vasculhar a rádio atrás da fita e não a encontrou. Até hoje não sei onde o Bonfim escondeu. Falava-se muito que ele havia colocado a fita dentro de uma lata e enterrado no quintal da casa dele.
Havia até passeata de protesto contra o resultado. Lembro-me de uma em 1968. Eu tinha 12 anos e era baliza do Colégio Amapaense. Perdemos para o GM. Não aceitamos o resultado. Vivíamos em plena ditadura. Um grupo de estudantes do curso científico, com idade média de 18 anos, entre eles Bonfim Salgado, Jorge Armando e Stélio Amaral, teve a idéia de fazer uma passeata de protesto. O protesto contra o resultado era a desculpa pra se fazer um protesto contra o regime. Com o apoio do diretor Tinilo compraram peças de pano roxo e nelas pintaram frases que serviam tanto para protestar contra o resultado como contra a ditadura.
E saímos pelas ruas, a banda tocando marcha fúnebre. E fazíamos discursos. Na frente da sede do grêmio estudantil Rui Barbosa – que o governo tinha fechado e tomado – subimos no muro e discursamos. Eu, com 12 anos, era chamada pra discursar e repetia, com outras palavras, o que os mais velhos haviam dito. Na verdade, eu nem sabia o que estava falando. Quem, aos 12 anos, naquela época poderia entender de política? Acontece que meu pai era alto funcionário do governo, daí até hoje acho que fui usada pelos colegas mais velhos como uma espécie de proteção a eles.
A polícia seguiu a passeata, nos fotografou e na metade do percurso nos fez debandar.No dia seguinte, reveladas as fotos, a polícia começa a chamar os participantes para "prestarem esclarecimentos". Quando os primeiros foram chamados, meu pai entrou na parada e convenceu o governador que não éramos subversivos, éramos apenas jovens. E como todos os jovens tínhamos nossas rebeldias. Ninguém mais foi chamado e ninguém foi preso.
Ah, o Bonfim Salgado – que trabalhava na Rádio Educadora – conseguiu um enorme gravador para registrar nossos discursos. A polícia foi vasculhar a rádio atrás da fita e não a encontrou. Até hoje não sei onde o Bonfim escondeu. Falava-se muito que ele havia colocado a fita dentro de uma lata e enterrado no quintal da casa dele.
Esta sou eu, quando era baliza do Colégio Amapaense. Faz muito tempo, né? Ainda era na época do "retrato" em branco e preto. Aí eu devia ter 15 ou 16 anos.
Esta é a mana Alcilene. Ela era baliza do Grupo Escolar Coaracy Nunes. Acho que ela tinha uns 8 anos. Linda, né?
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