Colunistas do blog
Terra à vista
Manoel Bispo
Esperei o foguetório e não veio, missa em ação de graça e nada. Pensei num mega show, com artistas amazônicos, também não pintou. Mas era dia dele, ou dela, depende da referência escolhida. Masculino se a chamo de Planeta; feminina se a chamarmos de Terra. Digamos em poucas palavras: é mais um dos seus, talvez, mi-ou-bilhões de anos, e olha que bem poderia ser anos-luz. Estou falando do Planeta Azul, Planeta dos Dinos, dos Macacos, dos Homens, hoje planeta dos automóveis, das megalópoles, das guerras virtuais, dos etcéteras. Perdemos a conta de quantos aniversários de milênios dessa esfera mágica, flutuante, obra de engenharia surrealista de um criador de superlativa competência.
Como esperei reverências e elas não sonorizaram os espaços pacíficos do meu entorno, eu, mesmo atrasado para a festa que não houve, aqui à sombra de um cutiteiro, respirando os ventos do grande rio, cravo minha bic no papel. Derramo minha opinião, meu voto vencido de que o aniversário – dia do Planeta Terra, 22 de abril de todos os tempos, fosse dignamente festejado em todos os continentes, países, estações ecológicas, estações orbitais, cidades, vilas, favelas, aldeias, becos e botequins. Onde um ser vivo, animal, vegetal, fóssil, microrganismo, existir que se reverencie este lugar, esta morada, esta particularidade da criação.
Motivos não faltam pois, como é sabido, o chão sob os nossos pés é dito e tido como o terceiro planeta do Sistema Solar, pela ordem de afastamento do sol, outra maravilha, nosso mais pródigo parceiro.
Não vou enumerar os efeitos terapêuticos do simples fato de sermos terráqueos, a mídia contemporânea cuida desse mote.
Não é por acaso que no Planeta do qual leigamente vos falo vive um povão, no rico sentido de todos os seres existentes, que faz amor e também cada guerra, que sai da frente dos mísseis sateleguiados!
Aqui vive um povo que ainda não sabe de onde veio, para quê veio, nem para onde vai. Mas, trabalha e estuda em tempo integral para chegar às grandes descobertas.
Enquanto os ponteiros giram os boeings cruzam os oceanos, as torcidas (des)organizadas se dividem na porrada, jardins florescem, o grande livro do conhecimento avoluma-se, e “a gente vai levando” como já dizia o Chico, o das Mulheres de Atenas.
A cada dia reinventamos as coisas, aperfeiçoamos a magia de ser, retificamos conceitos, acordamos mais verdadeiros, mais perfeccionistas e mais necessitados de justiça.
Faço lembrar que a Terra é nossa mãe natural e que foram necessárias sabe-se lá, quanta poética, quanta tecnologia, quanta ciência e quanta esperança até que um irmão nosso, um aventureiro da galáxia, um bandeirante da era cibernética pudesse dizer lá do alto “a terra é azul”.
(O poeta, escritor e artista plástico Manoel Bispo escreve todos os domingos neste blog)
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