terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Artigo

Abracadabra!

Ademir Pedrosa*

A operação de abastecimento em dinheiro dos caixas eletrônicos dos Bancos é feito com a maior segurança. O carro-forte estaciona no lugar reservado, sempre muito próximo do local destinado ao depósito do dinheiro. Do carro blindado descem três ou quatro seguranças, armados até os dentes. Munidos de escopeta, rifle e revólver, e protegidos de colete à prova de bala e o escambau a quatro, assim é a escolta da operação. Às vezes, para fazer o depósito de uma quantia de quinze, vinte ou cinqüenta mil reais, tem a mesma preocupação com a segurança como se o valor fosse de milhões. O desconfiômetro é uma medida providencial, o seguro morreu de velho.

A diretoria da Amcap (Associação dos Músicos, Cantores e Compositores do Amapá), resolveu baldear da agência da Caixa, cito na Av. Iracema Carvão Nunes, à sede da Amcap, cito na Av. Mãe Luzia, ali atrás da Faculdade Seama, dinheiro em espécie para pagamento dos artistas que participaram do evento do Reveillon. O transporte dessa grana foi feito em um automóvel de propriedade do músico Miquéas, vice-presidente da Amcap, e que dirigia o veículo. Ao lado dele, no banco de passageiro, o cantor Amadeu Cavalcante, tesoureiro da entidade, conduzia uma pasta contendo uma vultosa soma em dinheiro. No banco de trás, o percussionista Nena era o segurança. Armado de unhas e dentes, e de uma baladeira que ganhou de Natal, ele era o guarda-costas tucuju que julgavam infundir temeridade. Pronto!, esse era o comboio que tinha como missão o transporte da bagatela de – pasmem! – R$285.000,00 (duzentos e oitenta e cinco mil reais), em espécie e que tinha cheiro de dinheiro novinho em folha, saído indagorinha do forno. Francamente, Leitor, que santa ingenuidade tem os tolinhos que assumiram esse infeliz encargo, esse infortúnio...

Qualquer bandido não se perdoaria em deixar escapar uma oportunidade dessas. Sentir-se-ia um otário, não digno de ser ladrão. A ocasião e a chance era generosa demais. Foi tão fácil como tirar pirulito da boca de criança. O assalto rendeu aos bandidos um bamburro de fim de ano, um ano-novo suntuoso; para o Estado, um prejuízo lastimável. Essa quantia daria de sobra para concluir a obra da Beira-Rio, local onde os artistas, há mais de dois anos, deixam de ganhar o pão de cada dia. A cultura pede perdão.

O cantor e vereador eleito Marcelo Dias, presidente da Amcap, encerra a sua administração de maneira pífia. Os dois festivais de música que promoveu, foram fraudulentos. Premiaram músicas inscritas indevidamente. Só para o leitor não achar que estou blefando, a letra da música “Júlia” é um plágio grosseiro dos simbiônticos sonetos de Vinicius de Moraes e de Camões. E como a avacalhação era permitida, a letra traz uma citação aspeada de um verso do poeta Vinicius. E a bandalheira não parou por aí. Pagaram a premiação à música, cujo arranjador fora nomeado como diretor da banda base do festival. O regulamento não permite a participação de pessoas ligadas à comissão organizadora, sejam elas amigos ou desafetos. É muita cara de pau, um aviltamento contra os próprios colegas participantes.

O festival de 2008 era a oportunidade de corrigir as patacoadas cometidas nos anos anteriores, mas eles – claro! – optaram por abortar sua realização. O presidente estava ocupado demais com sua campanha política rastaqüera. Como ia sobrar-lhe tempo e dinheiro para fazer o festival? Preferiu fazer o reveillon. Era uma maneira mais festiva de comemorar a vitória de sua eleição. E assim ele encerra sua administração com um apoteótico rombo de quase trezentos mil reais. Feliz ano-novo, Vereador. Abracadabra!

*Ademir Pedrosa, escritor e professor de língua portuguesa e literatura