domingo, 23 de dezembro de 2007

Meu presente de Natal para vocês

Como presente de Natal ofereço aos visitantes deste blog um poema e uma crônica do meu pai, o poeta e jornalista Alcy Araújo (1924-1989).
Fazem parte do livro “Tempo de Esperança”, ainda inédito

Que cada um
leve um pássaro
para a amada

Quem possuir anjo
leve também
seu anjo

É Natal

Deus acende
pássaros
e rosas
e estrelas
que tentam
inutilmente
fazer renascer
a cor branca
enodoada
pelo vento
que vem das usinas
nucleares.


ORAÇÃO À MÃE DE JESUS
Esta é uma oração.
Uma oração de poeta cargueado de tristezas e de esperanças, que guarda da meninice distante a fé e o amor na santa Mãe de Jesus. Esta é uma oração feita num momento de aflição e de lágrimas, lágrimas que o homem de hoje chora pelo menino que não existe mais.
Esta é uma oração do homem que procura desesperadamente os itinerários do Pai Eterno, quando é impossível o caminho do retorno porque estão perdidas para sempre as marcas dos pés nus nas estradas da vida.
Senhora Mãe de Deus, hoje chorarei novamente. Sei que será assim, na sucessividade das minhas angústias, por não ter podido ser bom como sempre desejou aquela que, aqui na Terra, me conduzia pela mão naqueles dias de infância, que queimam as lembranças do homem que chora hoje prantos transatos. A vida, do meu Natal até o agora, foi marcando, Senhora Mãe de Jesus, e o menino se perdeu para nunca mais se encontrar.
Os desencantos e os sofrimentos, os caminhos atapetados de urzes, as feridas, o desamor, transformaram o menino e sepultaram a inocência com que aprendeu a primeira oração: Ave, Maria, cheia de graça...
Senhora, hoje estou com o coração molhado de lágrimas, na espera da bênção que virá sobre todos os filhos degradados de Eva, que Jesus veio para salvar.
E, nesta noite de Natal, eu rezarei, Santa Mãe do Céu, esta oração, a primeira que aprendi de mãos postas e o olhar de minha mãe preso ao meu olhar: Ave, Maria, cheia de graça...
E pedirei que rogues por mim, que tanto necessito de paz e de esperança, que tanto necessito de amor e de perdão. Minha Mãe do Céu, enxuga a minha angústia, ameniza o meu desespero, cura o meu desencanto nesta noite do nascimento do menino Jesus.
Senhora, olha para o menino que deixei de ser. O menino que usava, num fio de algodão, a tua imagem numa pequenina medalha de alumínio. Foi a minha primeira jóia. Lembrança da irmã Madalena, que acariciava meus cabelos, censurava com doçura minhas reinações e sonhava que eu fosse sacerdote da tua devoção.
Esta é uma oração. Oração do homem amargurado, que olha para o alto com olhos de granada, com a alma ajoelhada e o coração carbonizado lavado de lágrimas, porque hoje é Natal.
Rogai por mim... Por nós, para que sejam menores as nossas aflições. Ave, Maria, cheia de graça. O Senhor é convosco...