O contrabando de minério radioativo no Amapá
Seiscentos quilos de minério radioativo, distribuídos em 30 sacas, foram apreendidos ontem pela Polícia Federal próximo ao município de Serra do Navio, no Amapá.
Hoje mais uma grande quantidade, que a PF acredita ser torianita – com alto de radiação – foi apreendida na residência de Wilson Sicçu do Nascimento.
Ao prestar depoimento, Sicçu disse que pretendia vender o minério a um preço que varia de U$ 200 a U$ 300 o quilograma.
Esta blogueira apurou que há muito tempo Wilson Sicçu do Nascimento vem sendo investigado pela Polícia Federal. Há alguns anos, a PF interceptou conversas telefônicas dele com contrabandistas identificados apenas como Valente e Robson. Numa das conversas com Valente, Sicçu pedia amostras do material para levar para uma mulher que havia chegado e queria ver. Em conversa com Robson, Sicçu acerta a compra de 500kg de minério radioativo.
Há informações de que desde a década de 70 se faz contrabando de minério radioativo no Amapá. E essa informação me foi confirmada, há poucos anos, por um delegado da Polícia Federal.
A extração irregular e venda de minérios de alto valor no Amapá ocorre provavelmente há mais de 30 anos facilitada pelas fronteiras internacionais (Guiana Francesa e Suriname) e pela fronteira com o Pará. Além disso, a costa litorânea é extensa e com considerável fluxo de embarcações.
De 2004 até hoje a PF apreendeu mais de duas toneladas de minério radioativo no Amapá. A primeira grande apreensão foi em Santana, em agosto de 2004.
Num depósito pertinho do porto, onde atracam grandes navios que seguem para o exterior, foram apreendidos 800kg.
Um mês antes, a PF havia feito a apreensão de 600 quilos do minério torianita entre as cidades de Pedra Branca do Amapari e Porto Grande. A carga foi avaliada em mais de um milhão de reais.
Em 2006, quando entrevistei o então superintendente da PF no Amapá, Néder Durate, ele me disse que a constatação de que o Amapá possui a maior concentração de urânio em tório (minério) do mundo, servia de alerta para evitar que a rota do contrabando de minérios passasse pelo Estado. Ele dizia temer que a exportação clandestina já tivesse iniciado. Segundo ele a maior concentração de urânio em tório era de 7,8% detectada em países da Ásia. No entanto, ainda de acordo com ele, universidades e laboratórios americanos atestaram que o tório encontrado no Amapá tem um percentual de urânio que chega a 14%. “Não podemos descartar que ‘países bonzinhos’ levem tório e tantalita do Amapá como se fossem rejeitos para dar lastros aos navios que passam por aqui”, disse Duarte.
Neste mesmo ano a revista Istoé, em matéria assinada pelo repórter Rodrigo Rangel, dizia que o minério extraído ilegalmente no Amapá poderia estar indo para países da Europa, Ásia e África. A revista dizia também que não se pode descartar que o minério esteja “indo parar nas mãos do terrorismo internacional”.
A matéria de Rodrigo Rangel mostrou que a PF naquele ano já tinha identificado três grupos especializados no contrabando de urânio. Todos com base em Macapá.
Numa das edições do Correio Braziliense de maio de 2006, matéria assinada pelo jornalista Amaury Ribeiro Junior, diz que “a reportagem do Correio conseguiu localizar em Porto Santana uma fonte que fez uma revelação surpreendente. Devido ao cerco da PF contra o contrabando, 10 toneladas do minério foram jogadas em um rio de Goiás. O mineral seria negociado em Goiânia (GO).”
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