Artigo
Explicarás a teu filho
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá
Nestes dias todos nós somos contagiados pelo clima natalino. Desejamo-nos uns aos outros um Feliz Natal. Sabemos muito bem que não será feliz para todos e, também se o fosse, não o seria da mesma forma. Cada um de nós tem a sua história e o seu jeito de entender e buscar a felicidade. Contudo insistimos: Feliz Natal! Porque Natal deveria ser feliz para todos. Ao menos, acredito, todos gostaríamos que o fosse. Por um dia: todos felizes.
Na frente do Menino Jesus, os ânimos se acalmam, os corações se comovem, as lembranças se reavivam e os afetos se renovam. Poucos momentos do ano são vividos com tanta intensidade. Essa é a força e a graça do Natal. Não podemos desperdiçá-la; ao contrário, devemos vivê-la plenamente. Cada ano é diferente, e cada ano é uma nova chance que nos é dada de não jogar fora a riqueza do Natal.
Nesse sentido, lembrei-me que no livro do Êxodo, na Bíblia, após o relato da Páscoa, segue um capítulo, o 13, no qual Moisés lembra aos pais o que deverão dizer, por sua vez, aos filhos quando forem perguntados sobre o sentido dos gestos que estão fazendo. Isso significa que a simples repetição de ritos simbólicos devia ser acompanhada por uma explicação. Os anos iam passando, as gerações se sucedendo, mas as palavras dos pais contando e motivando o rito da Páscoa, deviam permanecer. Não podia ser perdido o significado daqueles sinais. Era obrigação dos mais velhos explicá-lo aos mais novos, de geração em geração, para sempre.
Não seria bonito que, também no Natal, os próprios pais contassem a história de Jesus aos seus filhos? As únicas dúvidas que eu tenho são: os filhos ainda têm vontade de conhecer esta história ou ficam satisfeitos com os filmes da televisão? Eles chegam a perguntar aos pais: “O que significa isto que estamos celebrando?” (Cfr. Ex. 13,14) Os pais têm condições de contar a história do Natal de Jesus?
Ninguém fique ressentido com essas interrogações. Porque a questão verdadeira, pensando bem, não é contar simplesmente o Natal como se fosse uma historinha qualquer, talvez cheia de anjos, pastores, bois e burros. O desafio é ajudar os mais jovens a ficar interessados sobre uma criança, que veio ao mundo tantos anos atrás e ainda hoje é lembrada no seu nascimento. Por que será isso?
Essa é a maior dificuldade que encontra quem quer contar a história do Natal e, se acredita, transmitir algo mais. Não vai ser fácil. Se os pais contarem uma história muito enfeitada – tipo fadas madrinhas e duendes - a criança vai acreditar, mas tudo isso desaparecerá quando ela crescer. Ficará talvez a poesia do Natal, a festa e a troca de presentes. Porém o Menino será somente o pobrezinho que nasceu em Belém e que deve continuar dormindo em paz. Do outro lado, uma história sem ânimo e comoção ficaria sem sentimento. Seria uma simples comunicação, sem calor e sem alegria. Um Natal, com uma embalagem fantástica cheia de luzes e cantos, mas vazio por dentro.
Não tenho grandes sugestões pedagógicas, ou alguma fórmula secreta, para que o Natal não desapareça rapidamente no turbilhão da correria, dos negócios e do consumo. Talvez a única saída seja contar como sabemos e podemos a história do Natal, e também fazer algo de diferente. Se por causa da ceia, a Missa ficou para trás, invertemos os horários. Assim os filhos ficarão sabendo que a Missa é coisa para adultos também. Se no meio de tantos presentes lembramos uns parentes mais afastados e pobres, uma família carente, os empregados e, talvez, vamos juntos entregar esses dons na casa deles, será uma surpresa para todos. Para quem doa e para quem recebe. Não uma cesta anônima, e sim um gesto fraterno de amizade. Se ficarmos sentados com a família para contar a história de Jesus e dizermos aos filhos que nunca mais vai ter um Menino assim, porque aquele Menino vem sempre para nos ajudar a mudar de vida, os filhos vão ouvir os seus pais falar de Deus e não somente o padre ou a catequista. Se convidarmos todos a fazer as pazes, e nós formos os primeiros a pedir desculpa pelo pouco tempo que investimos na nossa família, todos vão perceber que acreditamos e gostamos dela. Aí sim, os filhos vão perceber que o Natal chegou para valer.
Nada melhor que, explicando o Menino Deus, falarmos um pouco mais de nós, do hoje, das nossas alegrias e tristezas, das nossas angústias e esperanças. Somente assim o Menino ficará sorrindo para nós, será uma história viva de hoje e não mais só um evento do passado.
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