terça-feira, 24 de março de 2009

Artigo


Dia Mundial da Floresta - Uma Reflexão Necessária

Alcione Cavalcante *

A história recente da humanidade está fortemente relacionada à supressão das florestas nativas do planeta, em especial para atender a demandas cada vez maiores e mais concentradas de grãos e proteínas animais. Na tentativa de despertar na sociedade em geral e produtores rurais e governantes em especial, níveis mais elevados de preocupação para com a importância das funções das florestas, várias chamadas vem sendo realizadas, em especial a criação de datas alusivas ao tema.

Ainda que de eficácia discutível, tal estratégia, vem cumprindo em parte o papel a que se destina, ou seja, levar a reflexão sobre um tema, que mais cedo ou mais tarde vai definir o destino do Homo sapiens sobre a terra. Hoje não se discute mais sua importância das florestas para a estabilidade climática, para conservação da biodiversidade, para a proteção dos solos e nascentes, para a captação e armazenamento de água, para a purificação do ar e retenção de carbono e lazer.

No mundo, chama atenção o Dia Mundial da Floresta, instituído pela FAO. Não por pressão de passeatas conduzidas por meia dúzia de "ecochatos", mas a partir de proposta formulada pela Confederação Européia de Agricultores, cujo objetivo maior era o de "sensibilizar" a população sobre o valor das florestas. Isso ainda em 1972, provavelmente já sob influência de vozes e estudos que balizariam a pioneira Conferência Inter-governamental de Estocolmo.

No Brasil a mais importante iniciativa é a Festa Anual das Árvores, comemorada na Amazônia e no Nordeste, na primeira semana de março, conforme dispõe o Decreto 55.795 de 24 de Fevereiro de 1965.

Ainda que quase meio século nos separe da concepção destas iniciativas, nada há para comemorar neste campo. Estudos da FAO demonstram que o Brasil, entre 2000 e 2005, ostenta o pior balanço florestal do mundo, com déficit de médio de 3,1 milhões de hectares por ano, motivado principalmente pelas elevadas taxas de desmate experimentados na Amazônia. Comparativamente, em segundo lugar, em posição bem distante está a Indonésia, cujo déficit de floresta é de 1,8 milhão de hectares. Pior ainda, segundo e mesma instituição, o Brasil é o responsável por 75% de todo o desmate verificado na América do Sul. Detemos a maior perda, em termos absolutos, de floresta no mundo. Como constatamos, muita semente há que ser semeada, daí a importância dos engenheiros florestais, os "construtores do verde".

* Alcione Cavalcante é engenheiro florestal, ex-secretário de Estado da Agricultura