segunda-feira, 9 de março de 2009

Da Antologia Modernos Poetas do Amapá

Poema com destino à Noruega
Alcy Araújo

Eu ando com a cabeça baixa e dolorida
tateando na sombra dos guindastes
o corpo flácido das mulheres das docas
dentro das noites do cais.
Por que passam por mim tantos
marinheiros, navios, ondas balouçantes?
Se eu pudesse
descansaria a cabeça dolorida
num saco, num fardo, numa caixa,
depois escreveria um poema simples
e montava-o na onda com destino à Noruega.
E a moça loira
que o lesse ao sol da meia-noite
não saberia que sou negro
funo liamba
e tenho as mãos revoltadas e calosas.

Não me peças, Maria
Aluízio da Cunha

Não me peças, Maria,
um poema de amor,
profundamente musicado pelas rimas.
Não me peças, Maria,
um poema de amor.
Olha, Maria,
os jatos perturbaram
a melodia nascente
da primeira canção deste poeta.

Poema III
Arthur Neri Marinho

Não mais no quadro negro
o tempo de criança.
A escola isolada
desapareceu.
As meninas casaram
ou ficaram no mundo,
os meninos viraram homens,
uns de pés descalços,
uns de mãos vazias.
Minha mestra, onde anda?
Que problema difícil
de solucionar.

Muro
Ivo Torres

Olhos que buscam uma paisagem
no ninho árido da primeira saudade.
Mãos que se chocam
no frio vazio
de um antigo calor.
Sombras alienadas que se desesperam
à procura do corpo inaugural.
Flores à cata de perfume.
Palavras querendo uma voz.
Enquanto a vida sorri,
lá fora,
milionária de saúde.

Ciúme
Álvaro da Cunha

não sabe a flor
das varzéas da Indonésia
a frustração
do meu olfato ocidental.