quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Artigo do ex-governador do Maranhão

BARRA PESADA
José Reinaldo Tavares*
Quando eu estava no governo fui avisado por um importante advogado de Brasília que a turma do Sarney havia contratado uma empresa internacional especializada em espionagem, grampos ilegais e todo o jogo sujo desse submundo, para investigar a mim e a minha família, plantar dados comprometedores, vasculhar minhas contas, declarações de imposto de renda, patrimônio pessoal, tudo o que eles pudessem usar para destruir-me como cidadão e administrador. Fui informado também que o nome da empresa contratada era “ Control Risk”. O advogado me disse que o ódio do Sarney por mim ( lembram-se do artigo que escreveu no seu jornal no dia 1 de Janeiro deste ano em que me insultava de tudo?) era muito grande e que ele era capaz de tudo para me destruir e que eu tomasse muito cuidado.

Nessa época Sarney e a sua turma do Senado começaram a denunciar que estavam sendo gravados no Maranhão, insinuando que era o governo do Estado. Não passava um dia que esse assunto não fosse tratado com escândalo no seu jornal informando que iam pedir providências e uma investigação da Corregedoria do Senado. Vi que ali tinha “dente de coelho”, como se diz muito por aqui, e deduzi que, na verdade pediriam ao Corregedor, seu amigo, o senador Romeu Tuma, para autorizar a investigação e, consequentemente a permissão legal para escutar alguns telefones, certamente todos os meus seriam incluídos, para que pudessem revestir de legalidade a grande arapongagem que já estavam fazendo.

O ódio era tão grande que não se importavam de gastar muito dinheiro, já que é alto o custo que uma empresa dessas cobra para fazer esse tipo de serviço. Saí dali e fui ao Senado falar com o corregedor, senador Romeu Tuma, e o coloquei a par do que estava acontecendo e que não iria admitir que o Senado se prestasse a esse papel. Ele me tranqüilizou que isso não iria acontecer. De lá fui direto para o gabinete do Ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, que, para resumir, me disse que sabia da existência dessa empresa e que se chegasse ao seu Ministério qualquer pedido ou processo sobre o Maranhão ele me avisaria.

O trabalho, entretanto, foi feito e todos os dias era informado que um pessoal suspeito me acompanhava, rondava a casa, grampeavam meus telefones,etc. Como minha vida sempre foi honrada e depois de 40 anos ocupando cargos que movimentavam bilhões de reais, quando saí do governo do Estado em final de 2006 o único bem que tinha era parte de um apartamento em Brasília, ao contrário da riqueza ostensiva dos membros da oligarquia no Maranhão, dignas de qualquer marajá dono de campos de petróleo no Oriente Médio, enfrentei tudo de cabeça erguida.

O que nós estamos lendo, agora, nas páginas da Veja e da imprensa de todo o pais é o envolvimento de Chiquinho Escorcio em espionagem, visando desmoralizar os senadores Demóstenes Torres e Marconi Perillo, algo que sempre fizeram no Maranhão e mais recentemente no Amapá. É conseqüência natural de anos de manipulação de pessoas que se prestam a fazer o jogo sujo que seus chefes acham necessário. São muitas pessoas que são aquinhoadas com empregos bem remunerados em instituições públicas para servirem aos interesses do chefão. Assim como muitos advogados do baixo clero que são usados para dar roupagem legal à sujeira. Sarney sabe que força política e capacidade de operação, que usa para amedrontar seus adversários, e a classe política e empresarial, ele só tem garantido até 2010, quando encerra o governo do Presidente Lula.

Com a imagem extremamente negativa que tem hoje no sul e sudeste do país nenhum outro presidente vai querer colar nele esse símbolo do atraso brasileiro.
A revolução de 1930, feita pelo movimento dos tenentes e que colocou Getulio Vargas no poder já foi feita contra as oligarquias e o atraso que trouxeram ao país. Quem vai querer colar em si tudo que isso representa de atraso e injustiça social? Por isso ele sabe que a única maneira de tentar prolongar um pouco mais o poder em suas mãos é defenestrar o Governador Jackson Lago nos tribunais a custa do trabalho dos seus arapongas, advogados e a turma do “faz tudo” de que ele dispõe.

Esse processo que armaram contra o Jackson é fruto dos mesmos métodos e do mesmo pessoal que agora é pego com a boca na botija, em Goiânia. Chiquinho Escorcio é gente do Sarney e foi colocado como suplente de senador para ter trânsito livre no Senado. Teve emprego de assessor da Casa Civil do Governo Federal, conseguido por Sarney com Jose Dirceu. Com a saída inesperada de José Dirceu, Sarney rapidamente o colocou no Senado como assessor, com salário de R$ 9.300,00.

Há tempos se sabe que Chiquinho Escorcio estava por aqui com esses mesmos advogados de Goiânia pegos na tramóia contra os dois senadores adversários de Renan. Eram mais ou menos 5 pessoas e que de São Luis iam para o interior montar, de qualquer maneira, o processo contra o Governador. Foram usadas as mesmas armas: chantagens, ameaças, suborno, enfim, tudo o que é possível imaginar para tentar cassar Jackson Lago. É caso de vida ou morte para Sarney e seus “faz tudo”, todos sabem disso. Esse processo está definitivamente desclassificado. É uma enorme farsa que atenta contra a moralidade pública e a democracia brasileira.
É uma farsa e um engodo!

* José Reinaldo Tavares é ex-governador do Maranhão