Artigo do jornalista Raul Mareco
Superfaturamento da merenda escolar? A Tropa de Elite resolve!
Raul Mareco
Existem alguns acontecimentos de teor negativo que parecem ocorrer apenas no Amapá, desde o desvio de recursos públicos do setor da saúde, passando pela compra superfaturada de produtos alimentícios destinados á merenda escolar das crianças e adolescentes que estudam na rede de ensino público do Amapá. E, nada se faz, nada se vê, nada, nada...
O estado, que possui aproximadamente 600 mil habitantes, e que vai crescendo de forma assustadora cada vez mais, devido às constantes imigrações principalmente do Nordeste, está à sorte de um ‘salvador’, até mesmo de uma espécie de ‘mártir’, para tentar coibir as práticas criminosas que freqüentemente emanam um ar de corrupção num povo combalido pela ausência do estado nas necessidades básicas, como a saúde, a educação e a segurança, asseguradas constitucionalmente.
Diria que estas práticas adotadas por alguns setores ‘podres’ do governo se transformaram há algum tempo em crime hediondo, sem exacerbação do termo, pois, quem permite a morte de pessoas inocentes por falta de tratamento médico-hospitalar, assim como manipula os preços dos produtos da merenda escolar para beneficiamento próprio, é digno e merecedor do título de criminoso. Como explicar à sociedade a compra pela Secretaria de Educação (SEED) de um pacote de leite de qualidade duvidosa, pelo valor inimaginável de R$14,00, quando na verdade, custa apenas R$2,89 nos estabelecimentos comerciais?
Nas explicações anteriores do secretário, esdrúxulas e sem nexo por sinal, coube afirmar que alguns produtos, como a bolacha tipo cream cracker, de uma marca considerada pelos lojistas como péssima, estariam sendo comprados, atentem para o absurdo, “a quilo”. Quem, em sã consciência já comprou ou vendeu bolachas a quilo? “Bolacha a quilo só na feira”, teria ironizado um procurador. Além do crime, ousam em chacoalhar a inteligência do ser humano, no intuito de verem seus nomes e rostos livres de qualquer atividade nefasta, de qualquer sujeira.
O filme tupiniquim “Tropa de Elite”, que já levou aos cinemas brasileiros aproximadamente 1,5 milhão de pessoas somente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, conta a história da realidade vivenciada por policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro. Mas, o que o BOPE do RJ teria a ver com o superfaturamento da merenda escolar no Amapá? Uma questão, digamos, até surreal, por assim dizer.
O ano é 1997. O capitão Nascimento, personificado pelo ator Wagner Moura, pretende deixar a corporação e seguir sua vida longe da perseguição aos bandidos. Como de praxe, a corrupção também assola o BOPE, através de práticas abusivas por parte de alguns policiais. Nascimento, que de certa forma virou uma espécie de ‘anti-herói’ brasileiro, não faltando muito para virar um mito ficcionista, retrata uma violência que infelizmente, pela falta de capacidade do governo de erradicar o crime, faz com que boa parte do povo brasileiro o celebre, o reverencie por aquilo que o governo não faz: punir bandido; o que certamente estaria incorreto, neste caso.
Voltemos ao Amapá. Imagino, neste exato momento, e proponho que quem ler este texto o faça como exercício de consciência, que alguma criança em alguma escola pode estar sem ter o que comer. O processo funciona da seguinte maneira: primeiro: os pais não têm estrutura suficiente para arcar com a compra de alimentos; segundo: a criança, com fome, espera a hora de ir à escola para se alimentar com a merenda escolar; terceiro: o superfaturamento no preço de bolachas, leite em pó, almôndegas enlatadas, pacotes de macarrão, entre outros, contribui para que esta mesma criança, que não tem o que comer, não se alimente.
No mínimo, é revoltante, principalmente para quem já viu, como eu, uma criança passando fome, e quando tem algo, a sopa de papelão resolve. Continue a fazer o exercício: a criança olha para um lado e para o outro, e não encontra ninguém para resolver seu problema, deixando a solução para os pais que esperam alguma atitude eficiente do governo, que atitude? A de usar o dinheiro da merenda escolar para beneficio pessoal? E quando este mesmo governo gasta recurso público para aparecer na TV, o que pode ser considerado crime de improbidade administrativa, afirmando que tudo no Amapá está bem? É mais revoltante, e ao extremo. Então, a quem iremos recorrer?
Somos todos vítimas de uma pseudo-política que produz farsas atrás de farsas, embebedadas por propagandas mirabolantes dignas de produções hollywoodianas, de esquemas fraudulentos que não deixam nada a desejar ao lendário Ali-Babá, esquemas estes que assassinam as esperanças de um povo que apenas quer saúde, alimentação, educação e segurança, o básico seu governador, o básico. Ficção por ficção, prefiro acreditar no capitão Nascimento do BOPE fluminense, que daria um ótimo ‘mártir’ do povo do Amapá, e que certamente ‘puniria’ os verdadeiros bandidos, desta vez, os que estão com as garras afiadas na política amapaense.
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