segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Morre o poeta Sílvio Leopoldo

Sábado acordei com o celular tocando. Meu amigo Ney me liga de manhã cedinho me dando a triste notícia:
"O Sílvio Leopoldo morreu em Belém".
Custei a acreditar, não comentei com quase ninguém e só hoje caiu a ficha. Para mim é sempre difícil assimilar que um poeta morreu e se este poeta for meu amigo é mais difícil ainda. Não consigo ver nem imaginar um poeta num caixão, um poeta sendo sepultado. Acho que os poetas não deveriam morrer nunca.
Silvio era meu amigo dos tempos de colégio. Depois mudou-se para Belém, então raramente nos falávamos, mas sempre que a gente se encontrava era renovada a certeza de que a distância física não diminui o carinho, a amizade, a ternura.
A última vez que nos encontramos foi num lançamento de livro. Ele estava feliz, usava um chapéu branco, tinha luz nos olhos e no sorriso e falava com imensa ternura sobre os amigos de Macapá. É esta a imagem que quero guardar dele.

Poeta e compositor, Sílvio Leopoldo publicou os seguintes livros: Primeiros Poemas (1967); Velas do meu Mar (1970); Lira Ligeira (1976); Era uma Vez num Fundo de Gaveta (1990); Cantares do Bordel (1999) e tem participação em três antologias poéticas.

Na apresentação do livro Lira Ligeira, meu pai Alcy Araújo - também poeta - escreveu: “Aqui está um livro de um moço romântico, pleno de sensibilidade e um tanto aturdido com o amor e a vida. Este livro deve ser entendido como a inauguração de um poeta, deve ser compreendido como produto de um espírito jovem, que o mundo ainda está moldando.
Não se espere a perfeição da forma. Fisionomia interior é o que conta. No momento em que há um grande medo no mundo, em que a arte está grandemente vinculada com os problemas sociológicos do século, em que a mocidade está ameaçada de perecer por causa da bomba e de outros motivos sem dignidade, Sílvio Leopoldo nos fala de amor, nos devolve momentos de romantismo que pareciam perdidos na neblina do estrôncio-90."

Descansa em paz, meu amigo. Aqui eu sigo me encantando com a tua poesia.

DOS OLHOS DA MINHA AMADA
Sílvio Leopoldo

Os olhos da minha amada
são sonhos de eterno amante,
são rosários de ternura,
são luzes do meu instante.

O olhar da minha amada
é mensagem de poesia,
de tanto encantar-me, tanto!
Até parece fantasia...

Mas não é não fantasia
as duas estrelas do dia
brilhando em face de fada.

São olhos lindo, serenos,
imensamente serenos!
os olhos da minha amada.