A autoridade do amor
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
Um homem tinha tanta confiança no seu mestre, e nos seus ensinamentos, que um dia o convidou para ir à beira de um rio. Queria mostrar-lhe como conseguia atravessá-lo simplesmente andando sobre a superfície da água.
– Como faz isso? – perguntou o mestre.
Com muita humildade o discípulo disse: - Repito o seu nome, grande Guru, e nada mais.
O mestre pensou entre si: “Puxa, devo ser muito grande e poderoso se somente o fato de pronunciar o meu nome faz coisas tão maravilhosas!
E assim, quando o discípulo foi embora, resolveu logo aventurar-se sobre as águas dizendo: “Eu, eu, eu...” Imediatamente afundou e morreu afogado, porque não sabia nadar. A fé realiza milagres, mas a vaidade e o egoísmo acabam com a nossa vida.
No evangelho deste domingo é-nos apresentado Jesus com poder. Ele cura e ensina como “quem tem autoridade”. Assim o povo percebe, pensa e acredita.
É óbvio nos perguntarmos se aquela autoridade acabou e se ficou somente naquele tempo. Onde estão hoje a autoridade e o poder de Jesus?
Como sempre, quando lemos os Evangelhos entendemos que ninguém, nunca mais, vai poder repetir os gestos e as palavras do Senhor. Ele foi único. Contudo nós, os cristãos que afirmamos acreditar nele, temos o mandato não somente de manter viva a sua memória, mas também de levar até o fim a sua própria obra. Ele mesmo disse: “Em verdade vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas” (cfr. Jo 14,12).
A autoridade de Jesus e o seu poder estavam na sua certeza de ter uma missão extraordinária a cumprir, e que esta missão vinha do Pai. Jesus devia revelar à humanidade a força do amor de Deus. Ele, com os gestos e as palavras, estava manifestando esse amor, e ainda mais iria fazê-lo com a sua morte na cruz. Ao mesmo tempo, porém, estava justamente dizendo, a todos nós, que também devíamos acreditar na força do bem. Jesus, que sentia compaixão pelos doentes, sofredores e pecadores, curou e perdoou a muitos. Se nós soubéssemos nos amar um pouquinho mais, faríamos grandes coisas.
Quantas vezes julgamos que deveria ser Deus a resolver os nossos problemas e as grandes questões da humanidade. Dessa forma pensamos de nos eximir da responsabilidade; na prática estamos simplesmente declarando a nossa incapacidade e a nossa falta de fé. Preocupados com o nosso bem-estar, esquecemos o dos outros. Na luta do salve-se quem puder afundamos todos juntos. O nosso “eu” pode ser pessoal ou de grupo, mas sempre prevalece o nosso interesse. Raramente o melhor é para os outros.
Ainda pensamos que as guerras resolvem os problemas, que a fome e a miséria sejam problemas distantes. Em lugar de repartir o bolo, queremos diminuir o número dos que tem direito de comer.
O amor que Jesus ensinou não parou no tempo. Ao contrário, quantas pessoas aprenderam a dar a vida para os outros; quantos homens e mulheres, conhecidos ou não, repartiram pão, remédios, roupa, saber, sofrimento, para ajudar os irmãos. Não tem poder maior que a caridade. Não tem autoridade maior daquela de quem dá a própria vida para defender e salvar a vida de outros. Não é a força de Jesus e do seu exemplo de amor que acabou, é a nossa humanidade egoísta que está atrasada e medrosa.
O piloto de avião que conseguiu aterrissar na superfície de um rio salvou a ele, a tripulação e os passageiros. Incrivelmente conseguiu andar sobre as águas. Confiou e acreditou na possibilidade de conseguir essa façanha. Deu certo. Quando ao menos nós cristãos ajudaremos a humanidade toda a aterrissar sã e salva no rio do amor e da paz? Se continuarmos a repetir somente: Eu, eu, eu... afundaremos miseramente.
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