O Festival da bagunça
Nunca na história do carnaval amapaense o governo repassou tanto dinheiro para a Liga das Escolas de Samba como este ano e nunca o público foi tão desrespeitado como ontem, no Festival de Sambas de Enredo promovido pela Liga das Escolas das Samba.
Os ingressos só começaram a ser vendidos minutos antes do início da programação. Como só uma bilheteria foi aberta, formou-se uma fila quilométrica. “Passei mais de uma hora na fila”, disse a mãe de uma jornalista, lamentando que tenha perdido a apresentação das primeiras escolas. Aliás, as primeiras escolas se apresentaram para um público de meia dúzia de gatos pingados. “É triste, muito triste, cantar sem platéia”, disse Cafu – um dos intérpretes do Jardim Felicidade.
O evento começou às 17 horas, mas os banheiros só foram abertos por volta das 23 horas. Nesse período, as pessoas urinavam em qualquer lugar e o sambódromo virou uma enorme e fedorenta privada. Falar em imundície, vale ressaltar que não foi colocada nenhuma lixeira no Sambódromo, portanto garrafas pets, latas de cerveja, descartáveis e restos de churrasquinho e farofa eram jogados no chão.
Diferente dos anos anteriores, as torcidas não puderam se aproximar do palco. Foram mantidas a mais ou menos 30 metros de distância. “Sem a torcida por perto, como nos outros anos, sem o calor dos brincantes e dos simpatizantes da escola a gente perde o tesão e não faz um grande espetáculo”, disse o mestre de bateria Irlan.
O povo ficou espremido numa pequena área e tinha que fazer malabarismo para ver alguma coisa, pois o lugar destinado ao povo era atrás dos bares. “Isso é maluquice. Os bares deveriam ser colocados atrás e não na frente do povo”, reclamou o carnavalesco Paulo Rodrigues, ex-presidente da Liga das Escolas de Samba. “A gente paga e não pode ver nada. Vou reclamar no Procon”, falou um torcedor de Piratas da Batucada.
Parte do tablado que dá acesso ao palco ruiu quando terminou a apresentação de Piratas de Batucada. Uma ritmista da escola caiu, mas felizmente não se feriu gravemente. O Festival foi suspenso para que os bombeiros fizessem o reparo. A partir daí, por medida de segurança, só podia subir uma pessoa de cada vez, isso quer dizer que para a escola subir ou descer levava uma “eternidade”. Cada escola se apresenta com 30 ritmista, vários intérpretes, diretores de bateria, cavaquinhistas e violonistas, o que dá no mínimo 40 pessoas. Agora, imagine subindo uma por uma, o tempo que era gasto.
Não foi providenciado um local para a imprensa. Apenas a Rádio Difusora, emissora oficial do governo, e a TV Mani, da família do senador Gilvan Borges, foram autorizadas a ficar na pista da Ivaldo Veras, onde puderam trabalhar com tranqüilidade. Os demais jornalistas ficaram espremidos no meio do povo. Alguns desistiram da cobertura e foram embora, os mais teimosos ficaram.
No espaço onde os jornalistas podiam circular nos anos anteriores quem circulava este ano eram os diretores da Liga, com seus filhos, cônjuges e amigos. Muitos deles o tempo todo com uma latinha de cerveja na mão que depois de seca era jogada no chão.
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