terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Você conhece o Banana?

Ademir Pedrosa

Publiquei uma crônica a qual versava sobre o apelido de um sujeito que se chamava Bandido. Acharam o apelido esdrúxulo, indecoroso, fora-da-lei.
Acho que já me acostumei, pois não vejo nada de mais no nome de Bandido. Se o leitor quer saber, eu mesmo já ganhei um apelido com o qual sou tratado por alguns amigos. Deram-me o apelido de Lampião. Houve uma época que eu ostentava sobre o nariz uns óculos de lentes redondinhas e diáfanas, de hastes finas e delicadas, como patinhas de louva-a-deus, parecido com que o temível cangaceiro do agreste nordestino usava. E a partir dali nunca mais pude me desvencilhar da irrogação do cognome. Passei a ser tratado por Lampião, no paralelo. Hoje nem ligo, mas atendo pelo apelido com a mesma naturalidade de um anônimo e a fidalguia de um príncipe: presente!
Não vamos longe, o ex-presidente da Câmara de Vereadores de Macapá, Abdon, é conhecido pelo nome de Zeca Diabo, e, pelo visto, se sente confortável com a alcunha. Elegeu-se com ela. Já pensou se se chamasse Washington Münchhausen? Estava irremediavelmente perdido com suas pretensões políticas, porque naqueles arredados anos o eleitor tinha que escrever por extenso o nome do candidato. Imagine o apuro do eleitor para escrever o nome do seu candidato numa cédula eleitoral! Eu mesmo, para escrevê-lo nesta crônica, tive que consultar um volumoso tomo da enciclopédia britânica. Há outros nomes curiosos que figuram nesse elenco. Uns apropriadamente, outros nem tanto. Já o Banana... O leitor, porventura, conhece o Banana? Se ainda não conhece, tenha a convicção absoluta de que o conhecerá. Não sei de ninguém que tenha escapado dessa sorte. O Banana é a figura folclórica mais conhecida da redondeza. Já quiseram transformá-lo na "geni" da cidade, mas teriam que passar por cima de seu cadáver. Ao reagir aos escárnios, ia, às vezes, às vias de fato. Respondia às provocações a sua maneira e, ao que parece, levava quase sempre desvantagem, pois era visto freqüentemente com alguma parte do corpo engessada. O gesso já parecia fazer parte de sua indumentária. Aqui e ali estava metido em encrencas, graças ao seu temperamento intempestivo que não permitia levar desaforo pra casa. Ganhou uma cicatriz indelével no rosto por conta de uma ousadia romântica que cometeu: enviou flores a uma moça comprometida. O noivo, enfurecido e enciumado, quebrou-lhe literalmente a cara.
Mas o Banana é um bom sujeito. E quando você menos espera, ele surge para lhe prestar o mais necessário favor, como trocar o pneu furado do seu carro, providenciar a religação de sua energia elétrica cujo pagamento você, por descuido, esqueceu-se de fazê-lo nos últimos três meses. É capaz de interromper o trânsito em plena Av. FAB para ajudar, como um escoteiro compenetrado, uma velhinha atravessar a rua. É também capaz de conseguir uma vaga em um vôo "completamente lotado", em época natalina ou num final de semana, véspera do Círio; como se vê, é capaz de tirar leite de pedras. Mas também pode romper a intimidade do seu quarto de dormir para oferecer a você, em três pagamentos, um caixinha de uísque importado, doze anos. E uma vez ali instalado, não custa nada ele aproveitar a oportunidade para oferecer a sua senhora de camisola, um par de peças lingerie.
O Banana não existe! É uma dessas figuras saída de algum gibi. Mas é, sobretudo, gente. Prestativo, atrapalhado, generoso, irreverente, astuto, romântico e louco. Sim. O Banana só não é babaca. E é esperto demais pra ser banana.


*Essa crônica eu escrevi há mais de dez anos, foi publicada na Folha do Amapá. O saudoso Banana se foi pro andar de cima, vítima de acidente de moto, no qual se encontrava sem capacete. Saudades. Ademir Pedrosa