segunda-feira, 20 de abril de 2009

Artigo

O Amapá fica fora da Rede de Pesquisa em Malária
Prof. Dr. José Carlos Tavares

O Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq, juntamente com as Fundações de Apoio a Pesquisa dos Estados do Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo lançaram no dia 14/04 o edital para a formação da Rede de Pesquisa em Malária com recursos financeiros na ordem de 10 milhões de reais.

O Estado do Amapá é campeão em registro de casos de malária, ocorrendo em todos os municípios inclusive em Macapá, onde foram registrados 474 casos no ano de 2007. Sendo assim, não dá para entender como um estado que possui prevalência significativa em determinada doença não aproveita as oportunidades, como a ofertada pelo CNPq para estudo da malária em diversos campos. Pergunta-se é por falta do recurso de contrapartida? já que cada Fundação de Amparo, no nosso caso a SETEC, teria que oferecer. É por falta de interesse no tema? ou é por falta de pesquisadores na área, que pudessem concorrer com projetos? Devo dizer que apesar do edital ressaltar a questão da existência de grupos de excelência na área, mas os estados da região norte acima listados estão em igualdade com o Estado do Amapá, portanto, não trata-se de falta de recursos humanos na área de pesquisa, pois posso destacar aqui alguns nomes de pesquisadores que estudaram e estudam malária com alta qualidade, como é o caso da Profa. Dra. Rosemary Ferreira (UNIFAP), já premiada no tema, Prof. Dr. Álvaro Couto (SEAMA e CDT-AP), Prof. Dr. Raimundo Nonato Picanço (UNIFAP), Profa. Elizabeth Viana (UNIFAP), Prof. Rinaldo Martins (UNIFAP) e outros que com certeza, se o Amapá estivesse entrado na composição da rede de malária, apresentariam projetos e seriam contemplados.

Deve-se analisar que a questão é mais séria. A partir do momento que não há iniciativa e interesse dos gestores maiores quanto a lutar pelo espaço, colocando o Estado do Amapá no mesmo nível dos outros estados, ficamos sempre a mendigar, e assim os órgãos de fomento a pesquisa, passam a acreditar que no Estado do Amapá não há cientistas (pesquisadores), ou aqueles existentes são improdutivos e incompetentes, que não é o caso. Basta citar que um grupo de pesquisa da UNIFAP concorreu em edital nacional do CNPq, com instituições como Fiocruz-RJ, USP e Instituo Evandro Chagas – PA e ganhou dessas instituições, com projeto que dizia-se certo que iria perder. Outros casos de sucessos poderiam aqui ser citados, mas o importante é dizer que o Estado do Amapá está muito mau no que se refere a Ciência e Tecnologia (C & T), principalmente em relação a implementação de ações que pudessem valorizar a capacidade e o conhecimento dos pesquisadores locais.

É inconcebível que seja destinado somente o montante de 1 milhão e quinhentos mil reais para C & T para o ano de 2009, num estado que se diz detentor da maior biodiversidade do país, entretanto, as cifras que são gastas com propaganda, chegam a 5 vezes mais a esse valor.

Em C & T é necessário ousadia, e mesmo que aparentemente não tenhamos recursos humanos disponíveis para estabelecer concorrência em nível nacional, mas é preciso acreditar nos grupos de pesquisa emergentes que aqui estão, e sem dúvida, desde que sejam ofertadas condições, esses grupos poderão contribuir para a resolução dos nossos problemas locais, principalmente em relação as doenças negligenciáveis, e ao baixo rendimento nos indicadores da educação que atingem o nosso estado.

No mesmo rol da formação da rede de malária, o CNPq já anuncia a formação da rede de pesquisa em dengue. Vamos observar atentamente quais são as iniciativas que os representantes do governo estadual responsáveis pelas políticas de C & T, irão fazer para que o Estado do Amapá seja incluído nessa rede. Haja vista que semelhante a malaria, o Amapá está entre os primeiros em ocorrência de dengue, e há pesquisadores capazes de estudar dengue em vários níveis de pesquisa no estado.