Artigo
Devemos ter preocupações com o marabaixo
*Rostan Martins
As várias modificações que a dinâmica cultural se impõe no marabaixo deve ser motivo de preocupação ou pelo menos ficarmos de orelha em pé, quanto a sua descaracterização. As mudanças ou atualizações se fazem necessários pelo simples fato de que tudo na natureza caminha pra frente e se modifica a cada instante. E o nosso marabaixo tem que atualizar-se, mudar-se e modificar-se.
A grande preocupação que todos devemos ter é quando a essas atualizações ou modificações descaracterizarem por completo a forma e o conteúdo do modificado.
Desde a sua origem, provavelmente na Vila de Mazagão Velho, a cultura do marabaixo vem se atualizando, sempre pra melhor manifestar-se e ficar de acordo com o que mandam as normas das dinâmicas sociais. As indumentárias, por exemplo, modificaram-se. Antes tínhamos as saias rodadas floridas de chitões, hoje temos as mesmas saias rodadas floridas, só que de cetim ou outro tipo de tecido. As nossas marabaixeiras pioneiras não usaram cetim porque não existia na época. No caso dos marabaixeiros o chapéu era um acessório de cunho social/coletivo e, portanto, usado nas festas de marabaixo, posteriormente esse acessório perdeu o seu uso, e, portanto, também perdeu o seu uso nas festas de marabaixo. Essas mutações não descaracterizaram o marabaixo, melhoraram-no ou atualizaram-no.
A descaracterização, no caso das indumentárias citadas, seria, por exemplo, mudar as saias rodadas por mini-saias, ou no caso dos chapéus o uso de perucas.
As regras das características originais, que fazem o marabaixo conservar a sua originalidade, estão na tradição, na tradicionalidade e no subconsciente da coletividade que faz fazer a cultura, coletividade que tem autoridade para permitir ou não as suas modificações. O problema está quando outras influências ou forças tentam impor as modificações que poderão descaracterizar-lo. Sobretudo o poder do capital financeiro e a política partidária que se tornaram muitos perversos para as diversas culturas populares.
Fazendo uma comparação com a cultura dos desfiles carnavalescos, que também é uma manifestação popular, tal qual o marabaixo, que apesar da tradição, da tradicionalidade ou do subconsciente, foi necessário criar um conjunto de regras para proteger a cultura quanto a sua descaracterização. Esse conjunto de regras é o regulamento definido pelas entidades. Só como exemplo, duas das regras do carnaval é: não conter enredos de cunho comercial e não apresentar propagandas político-partidárias nos desfiles. O uso destes iria descaracterizar-lo por completo.
O anúncio de que surgiram idéias de incorporar novos instrumentos musicais no marabaixo, com o objetivo e deixá-lo mais interessante é um caso desses. Não estou dizendo que devemos criar um conjunto de regras para proteger o marabaixo, ainda não é o caso, o que estou querendo dizer é que precisamos ficar de orelha em pé quanto a isso tudo.
Com certeza não queremos ficar que nem o vizinho estado do Pará que desenvolve vários projetos com o objetivo de resgatar a originalidade do carimbó, uma das suas principais manifestações populares.
Rostan Martins é jornalista, mestre em semiótica e professor universitário
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