sábado, 25 de abril de 2009

Artigo

Umas Margaridas e uns Domingos
Professor Alcides de Oliveira
alcides.oliveira2005@ig.com.br

Ao começar a se falar desses dois ilustres personagens, brasileiríssimos, amapaenses dos "pés rachados", trazidos ao nosso conhecimento pela reportagem de uma tv, é necessário primeiro falar que são dois anciãos, Dona Margarida e seu Domingos, representando sem saber a vida humilhante, degradante de milhões de anciãos, que estão nesse momento vivendo a nossa volta, em todo o lugar desse país, em toda a comunidade formadora dessa sociedade, sociedade essa paradoxal, pois nesse sentido, não pode essa sociedade ser social, pois não direciona essa qualidade para o viver desses anciãos. São duas pessoas lucidamente vivendo o resto de suas vidas, em um lugar bucólico, longe de burburinhos, sombreados pelas palmeiras dos açaizais, tendo como companhia seus anjos da guarda, suas lembranças distantes e a companhia mais importante nesse momento que é a esperança, pois mesmo com o avançado das duas idades, não a perderam, pelo contrário, está mais viva do que nunca, porque nunca, nunca precisaram tanto dela como agora, pois nesse momento das suas vidas ela representa a vontade de continuar a viver, representa ter saúde, representa ter comida para matar a fome, representa sarar as feridas trazidas pelo tempo, representa aliviar a dor do desprezo e do abandono, representa o encontrar de um carinho, de um respeito, de uma amizade, de uma caridade, de um aperto de mão, de um beijo na face ou de um abraço apertado. Essas duas almas sagradas, com os seus corpos sagrados, marcados pelo tempo, tentando ainda carregar esse tempo tão pesado, pesando ainda mais do que está, não querem muita coisa, o que querem é que todos os vejam, querem que todos os adicionem, querem ser mirados e assim ao serem mirados, que quem os mira sintam o que estão sentindo, querem que não sintam pena deles, mas que lhes deem dignidade e se possível ofício, querem ser incluídos, querem ser se não amados, mas amigos, eles gritam, mas suas vozes não são ouvidas ou os ouvidos que deviam ouvi-las, tem os tímpanos fechados hermeticamente para esses e abertos para quem não os faça esse tímpano vibrar e assim supostamente, se sentem desobrigados, mas suas consciências, quando as tem, muito mais instigantes e sofridas hão de ficar. Por que tem que ser assim? Por que esse dois anciãos tem que sofrer? Por que a distância de todos? Por que depois de tanto viver eles tem que viver na doença e na fome? Por que o poder público não os vê se eles estão ali, e se não os vê por que então é poder? Por que a sociedade que está a sua volta não os assume e se não os assume por que é social? Muitas perguntas e respostas nenhuma, ou quase nenhuma, quase, pois nem todos os seres humanos são tão poucos humanos, porque muitos são muito humanos, como estes que trouxeram a imagem da vida desses anciãos para todos que quiserem ver, eles não só trouxeram mas levaram também, levaram além de bens materiais o carinho, o respeito, o amor fraterno, a dignidade, levaram a cor da vida, a temperatura da vida, a alegria da vida, o alimento da vida e sendo assim eles levaram aquilo que aquelas duas vidas mais do que tudo precisam, eles levaram a esperança da vida que com certeza aqueles dois seres humanos nos seus cantinhos ali vivendo, nunca perderam, pois em seus pensamentos elevam aos céus agradecimentos mil àqueles que com muito senso de humanidade os fizeram trazer do fundo de suas almas um sorriso, que a muito estava guardado, porque a muito não houve motivo para mostrá-lo. Muitos seres realmente humanos, estão fazendo parte desse texto com muita honra, e eles sabem disso, porque todos tem a certeza que eles ao depararem com outras Margaridas e outros Domingos, também os farão trazer do fundo de suas almas, o sorriso, porque além de serem Margaridas e Domingos, são humanos e merecem sorrir.