Começa hoje o Marabaixo da Favela
"Quem tem roupa vai a missa lê lê
quem não tem faz como eu lê lê
Rosa branca açucena lê lê
Rosa branca açucena lê lê
case com a moça morena lê, lê"
O rufar dos tambores vai ecoar hoje por todo o bairro da Favela, a partir das 15h, com o Marabaixo da Aceitação que dá início ao Ciclo do Marabaixo da Santíssima Trindade.
É dia de soltar foguetes, beber gengibirra, tirar ladrões e dançar até altas horas. As mulheres de saia florida, blusa branca e toalhinha no ombro para enxugar o suor e os homens de calças e camisas brancas e sandália de couro. Mas vale também bermuda e camisa de qualquer cor.
As mulheres dançam em círculo, arrastando os pés. A coreografia lembra o andar dos escravos de pés acorrentados. Os homens tocam caixa (tambor) e tiram os ladrões, isto é, cantam, e as mulheres fazem o coro. Aliás, hoje as mulheres também já batem caixa e puxam ladrões, como Maria José Libório, a Zezé, 69 anos, filha de Tia Gertudres – um ícone do Marabaixo.
Mas de onde vem esta que é a maior e mais importante expressão cultural do Amapá? Da África, claro. Historiadores e pesquisadores contam que nos navios que traziam os escravos para cá, os negros puxavam um canto que era como um lamento. “O ladrão lembra o lamento firme e vivaz de negros que cultivavam a esperança de voltar para o continente africano”, diz o pesquisador Rostan Martins. “Um participante líder e com habilidades de versar sobre assuntos do dia-a-dia, tira o Ladrão de improviso, como que roubando a “deixa” de outro participante que vai completando na improvisação”, explica.
O ciclo, que começa hoje, só termina no dia 14 de junho, com a derrubada do mastro e a entrega da bandeira da Santíssima Trindade para o festeiro do próximo ano. Nesse período tem o Marabaixo da Integração, o Marabaixo em homenagem ao trabalhador, Domingo do Mastro, Domingo da Murta, Missa, novenas, almoço dos inocentes e Corpus Christi. E haja gengibirra – uma bebida feita com cachaça, gengibre e açúcar.
Este ano na Favela a festeira é Marinete Silva da Costa, neta de Tia Gertrudres. É na casa do festeiro que acontece todo o ciclo do marabaixo. E a casa de Marinete fica na avenida Duque de Caxias, 1203.
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