quarta-feira, 17 de junho de 2009

Artigo

O caminho do Brejal, de Sarney

Ademir Pedrosa*
(pedrosademir@hotmail.com)

Depois do axioma bestialógico de que o homem só se sentirá deveras realizado após plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro, os escrevinhadores se danaram a escrever livros a torto e a direito. É por isso que se repete no Brasil o que acontece no Amapá: há mais escritores que alfabetizados. Ora, ter um filho é algo que basta ter fertilidade e uma mulher que tope dividir essa tarefa – ou vice e versa.

Plantar uma árvore é algo que me parece naturalmente simples. Uma pá e a muda de uma planta já são suficientes. Agora, escrever um livro é algo que requer algo mais, a começar pelo domínio da Língua, coisa que alguns têm demonstrado que precisariam de um reforço do Mobral. É por causa disso que talvez o País esteja atolado numa pocilga de livros. E pra quem pensa que isso é pouca porqueira basta ver o que vendeu de livros Paulo Coelho. Vendeu milhões de exemplares em diversos idiomas, e entrou olimpicamente para Academia Brasileira de Letras.

O escritor Machado de Assis, que é presidente perpétuo da Academia, nunca vendeu, durante estes cem anos, um terço sequer do que vendeu de livros o Mago Paulo Coelho. No Brasil só a Bíblia vendeu mais. A Bíblia é considerada livro de cunho literário, o do Mago de auto-ajuda. A Bíblia está no mercado brasileiro desde quando o Brasil foi descoberto, o do Mago há três décadas. O hábito pode até fazer o Monge, mas o livro não.

Embora não seja a qualidade literária que promove o ingresso do escritor à Academia, pois basta que tenha escrito um livro e que faça uma boa campanha de sua candidatura que poderá ser eleito. É uma eleição cujo critério é o voto dos acadêmicos que decide qual dos candidatos ocupará a cadeira vaga. Aquele que obtiver o maior número de sufrágios é eleito. Mas não vamos esquecer que já houve eleições por aí que impugnaram e até cassaram mandatos de prefeitos quando se comprovou que não sabiam ler, eram ágrafos de pedra. O TRE não aprova candidatos analfabetos, a Academia também.

Não é a Academia quem escolhe os concorrentes, ela escolhe um dentre os candidatos. Na verdade a Academia é uma agremiação que reúne escritores sem a preocupação de qualificar de bons ou ruins, o que não ilide o fato de eles serem representantes das Letras no Brasil. O Escritor João Ubaldo Ribeiro, por exemplo, se sente honrado de pertencer à Academia. E outros se sentem virtuosos nesse mesmo diapasão. Já o escritor Millôr Fernandes que nunca quis ser Acadêmico, tripudia. Veja a análise que ele faz do livro Brejal dos Guajás, do Acadêmico José Sarney:

Quando o autor diz que “o caminho do Brejal era longe”, como garante que é o caminho do Brejal? Sendo longe do Brejal, o caminho, em última análise, não é do Brejal. Vai ver é de Pirapora, Cascadura, Nova Zelândia, sei lá. Uma coisa, Sir Ney – o caminho de um lugar é sempre perto desse lugar, a partir de. Pode até não ir longe, mas é perto. Se, porém, o autor assume um ponto de vista exterior em relação ao Brejal (o que absolutamente não foi feito), tem que dar uma idéia de onde está – na Academia Brasileira de Letras, por exemplo? Mas daí pro Brejal, todos sabem, o caminho é muito perto. Em qualquer país civilizado Brejal do Guajás seria motivo para impeachment.

Sarney era, naquele estádio, presidente do Brasil. Por aí o leitor pode ver que a Academia não goza desse prestígio atribuído a ela como se fosse uma unanimidade. Nem o Senador, por ser integrante dela. Não vamos misturar alho com bugalhos...

(Ademir Pedrosa é professor e escritor)