sábado, 22 de março de 2008

Fronteira amazônica à deriva

Do blog do jornalista Chico Bruno

"Enquanto a grande imprensa discute sobre sucessões municipais, medidas provisórias, CPIs, regresso da cafetina brasileira dos EUA, entrada de brasileiros na Espanha e outras coisas mais, os graves problemas que ocorrem nas fronteiras da Amazônia são ignorados pela mídia.
No dia 17 de março o jornal A Crítica, de Manaus, deu conta de uma operação conjunta do Exército com a Polícia Civil do Amazonas que descobriu, pela primeira vez na Planície Amazônica, vários pontos de plantação de coca e um laboratório de produção de cocaína. As plantações ficavam no lado brasileiro da fronteira com o Peru.
Militares e policiais destruíram as plantações encontradas com a ajuda de imagens de satélite. A área plantada foi calculada entre 2,5 hectares e está localizada a cerca de 150 quilômetros de Tabatinga, no Amazonas, na calha do Rio Javari.
No povoado peruano de Alerta, na fronteira com o Acre, o representante governamental Julio García Agapito, um dos principais combatentes do desmatamento da Amazônia, naquela região, foi assassinado após apreender um caminhão carregado de mogno extraído ilegalmente.
A ação demonstra que a corrida pela extração ilegal de mogno na região tem avançado e começa a fazer vítimas. O assassinato de Julio foi notícia no The New York Times, de 17 de março, em matéria assinada pelo jornalista Andrew Revkin. Por aqui apenas sites e blogs amazônicos noticiaram o fato. Fora da região, apenas o site “Política & Cia. Iltda” se ocupou do assunto.
Na fronteira do Amapá com a Guiana Francesa grassa a prostituição infantil, o tráfico de drogas, o contrabando e o garimpo ilegal.
Na semana passada, “dezoito brasileiros foram presos e apreendidos mais de sete quilos de ouro, um quilo de jóia, dois quilos de mercúrio e 20 mil euros na Operação Harpie, deflagrada pelo governo francês para acabar com os garimpos clandestinos na Guiana Francesa”, segundo a jornalista Alcinéa Cavalcante noticiou em seu blog.
Segundo o presidente Sarkozy a Operação Harpie só vai parar quando não restar mais nenhum garimpeiro explorando ilegalmente o ouro naquele departamento ultramar da França. Mais uma notícia veiculada apenas em sites e blogs da Amazônia.
Enquanto isso, o governo federal faz vista grossa para o caos existente na fronteira do Amapá com a Guiana Francesa.
Agora, surge uma informação da mais alta gravidade publicada nos blogs do Acre.
É que a construção da Estrada do Pacífico, que liga Brasil aquele oceano, através do Acre e Peru, está servindo apenas para fomentar e facilitar o acesso da cocaína ao nosso país.
- Não há fiscalização, aumentou a oferta de cocaína vendida nas ruas dos bairros de todas as cidades acreanas. A cidade [Rio Branco] está ficando famosa no país por possuir a cocaína mais "pura" e mais barata do que a encontrada nas grandes cidades. A região de fronteira do Acre com o Peru e a Bolívia, que está dominada pelo narcotráfico e a exploração ilegal de madeira, segue sendo tratada com cinismo pelo poder público, escreve Altino Machado em seu blog.
Até a Polícia Rodoviária Federal reconhece o problema.
Recentemente, o inspetor Alvino Silveira, da Polícia Rodoviária Federal, declarou ao jornal Página 20, de Rio Branco, que a Estrada do Pacífico permitiu o aumento da entrada de droga no Acre.Segundo Leonildo Rosas, em seu blog, a direção do jornal, aliada histórica do governo do Acre, foi chamada a atenção por assessores do governador Binho Marques, que a repreendeu “afirmando que o governo fez um grande esforço para integrar o Acre com o Peru e não aceitará que histórias sejam inventadas”.
Ao invés de adotar medidas para combater o tráfico de drogas, o governo do Acre quer esconder o problema embaixo do tapete. É deplorável.
Pois, tudo isso anda acontecendo nas fronteiras amazônicas e o governo brasileiro e a imprensa olham impassíveis.
Aliás, o olhar da imprensa sobre a Amazônia sempre foi torto."