segunda-feira, 10 de março de 2008

Semana da Poesia no blog

Se alguém te perguntar o quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus
quis dizer com este mundo... (Mario Quintana)

Sexta-feira, 14, é o Dia Nacional da Poesia e este blog faz a Semana da Poesia.
E vamos abrir a semana com poemas de Alcy Araújo Cavalcante, Eliude Viana e Ricardo Rayol.

MINHA POESIA
Alcy Araújo Cavalcante


A minha poesia, senhor, é a poesia desmembrada
dos homens que olharam o mundo
pela primeira vez;
dos homens que ouviram o rumor do mundo
pela primeira vez.
É a poesia das mãos sem trato
na ânsia do progresso.
Ídolos, crenças, tabus, por que?
Se os homens choram suor
na construção do mundo
e bocas se comprimem em massa
clamando pelo pão?
A minha poesia tem o ritmo gritante
da sinfonia dos porões e dos guindastes,
do grito do estivador vitimado
sob a lingada que se desprendeu,
do desespero sem nome
da prostituta pobre e mãe,
do suor meloso da gafieira
do meu bairro sem bangalôs
onde todo mundo diz nomes feios,
bebe cachaça, briga e ama
sem fiscal de salão.
- Já viu, senhor, os peitos amolecidos
da empregada da fábrica
que gosta do soldado da polícia?
Pois aqueles seios amamentaram
a caboclinha suja e descalça
que vai com a cuia de açaí
no meio da rua poeirenta.
Cuidado, senhor, para o seu automóvel
não atropelar a menina!...

Poeta, jornalista e escritor Alcy Araújo Cavalcante, meu pai, nasceu em Peixe-Boi, no Pará, no dia 7 de janeiro de 1924 e faleceu em Macapá em 22 de abril de 1989. Publicou vários livros de poesia e crônicas e figura em importantes antologias e enciclopédias brasileiras e estrangeiras.

FAXINANDO
Eliude Viana

Bati às portas do peito
Afastei as cortinas do coração
Fiz psiu...
Ninguém apareceu.
Olhei na saleta da saudade
Arredei os sofás dos cantos da alma
Nem rastros ... Nem marcas...
Vasculhei-me inteira!
Onde será que eu te deixei...?
Professora e poeta Eliude Viana nasceu no Pará, mas aos quinze anos de idade veio para o Amapá. Tem várias obras publicadas. É um dos mais importantes nomes da nova geração de poetas amapaenses

Com-partilha
Ricardo Rayol

Por um dia,
serei rei,
e do trono,
monarca sábio,
serei justo.
Neste dia,
meus ouvidos abertos,
acolherão os lamentos,
as súplicas.
Teu pedido será ordem,
a coroa será tua,
teus passos, os meus.
Seremos unos na fé,
na batalha, na dor.
Por um dia.
Blogueiro dos mais conhecidos, Ricardo Rayol é um indignado de carteirinha, um bom contador de histórias e um grande poeta. A indignação de Rayol você lê no blog Indignatus. Para se encantar com a poesia dele o blog é A cor da letra