quarta-feira, 29 de julho de 2009

As pescarias do moleque Sapiranga

IGARAPÉ DA OLARIA
Milton Sapiranga Barbosa, especial para o blog

Assim era chamada a continuidade do igarapé da fortaleza quando passava por trás (ou detrás?) da Olaria Territorial e ia terminar no barreiro da Maloca, onde morava o tio Júlio do Boi .
Era um igarapé piscoso, onde se pescava muito matupiri, jandiá, jacundá e amuré ( essa espécie de peixe não existe mais, e mesmo, só servia pra roubar isca ) creio eu.
Dos meus 5 aos 8 anos de idade, cansei de ajudar no boião levando para casa grande cambada com matupiri (que o pessoal de outras paragens chama de lambari), entremeada com jacundá e jandiá. Quando estava já com 7 anos e já sabendo nadar bem, passei a pescar tambaqui e pirapitinga, também no Igarapé da Olaria, pois para pescar esses peixes era preciso ir além dos bueiros da Eliezer Levy, chegar até uma árvore de grande porte tombada sobre o leito do igarapé, onde, entre os ramos submersos, eles se encontravam. Noutra parte do igarapé, nerusca de encontra tambaqui ou pirapitinga.
A molecada do meu tempo freqüentava em peso o Igarapé da Olaria para pescar, tomar banho, brincar de pira, de dar canga-pé (mergulhar e tentar acertar o outro com os pés). Tinha um grupo mais corajoso, que se arriscava em varar de um lado para outro por dentro dos bueiros. Coisas de moleque. Rabiscando essas linhas, numa viagem no tempo, vejo nitidamente, como se fosse agora, o Mudo (hoje funcionário do GEA) pescando e gesticulando com ar de aborrecido com quem se aproximava de seu ponto de pesca. Ele queria até brigar às vezes.
Sabará, Célio, Délio, Bibi, Laércio Aires, Bereco, Candé, Rato e Ratão (único que entrava no tabocal para pegar um papagaio que ia chinando. Besta do espinho que aparecesse no seu caminho), Caié e o irmão Durval, os irmãos Bilisca Lua, os irmãos Silas Salgado e muitos outros, brincaram e pescaram no Igarapé da Olaria. Lá também servia de piscina ou banheiro, como queiram, para a molecada que trabalhava na olaria, só para que quando chegasse em casa não tivesse que encher água, pois corria o risco de encher um barril que comportava 12 latas de querosene, bem medido, que estava sempre de plantão ao lado do poço.
Mas o Igarapé da Olaria não me traz só boas lembranças. Andei levando umas boas surras da Dona Alzira por não avisar para onde ia ou por demorar muito por lá. Quando ela usava cinto, era bom (era como quem come um filé), mas quando era de galho de goiabeira ou cuieira, tamanco ou palmatória, era como comer carne de cabeça. Mas, apesar de doídas, as surras serviram e agradeço em oração a minha saudosa mãe, pois, sem elas, talvez eu não estivesse mais aqui ou não fosse uma pessoa de bem.
O Igarapé da Olaria faz parte também da minha infância feliz no Bairro da minha querida Favela. Bons tempos!