Marcos Rocha - um professor inesquecível
Na minha época de estudante quem fazia o curso ginasial no Colégio Amapaense tinha pressa de chegar ao curso científico para ser aluno de Munhoz, Marcos Rocha, Pedro Assis, Salomão Elgrably, Duca, entre outros. Ser aluno desses professores dava status e a garantia de ser aprovado no vestibular.
Pois bem. Eu também queria ser aluna dessas feras.
No meu primeiro dia de aula no curso científico, além de ir cheia de pavulagem para o colégio (e quem não se enchia de pavulagem ao começar a cursar o científico?) voltei pra casa mais pávula ainda e contando, cheia de orgulho para minha mãe, que eu tinha um dos melhores professores de Química: Marcos Rocha.
Na primeira semana de aula ficamos, eu e meus colegas, boquiabertos quando o professor Marcos Rocha nos falou sobre uma tal balança de precisão, na qual era possível se saber até o peso de um fio de cabelo. Isso era uma maravilha! E inacreditável. Só vendo pra crer. Imagina, naquela época (comecinho dos anos 70), adolescentes em Macapá, só conhecíamos aquelas balanças de mercearia onde íamos comprar para nossas mães uma quarta de manteiga, um quilo de arroz ou uma quarta de café. A menorzinha que eu conhecia era a do ourives Jesus.
Percebendo nossa curiosidade, o professor Marcos Rocha nos convidou para ir ao Laboratório do Governo, onde trabalhava pela manhã. No dia seguinte lá estávamos nós para ver e entender essa maravilha. Saí de lá sabendo quanto pesava um fio de cabelo meu e das minhas colegas. O meu era o mais leve, pois tinha o cabelo mais fino. Mas aproveitamos a visita para conhecer outros instrumentos de precisão que nem sonhávamos que existisse.
A cada aula do Marcos Rocha eu voltava mais empolgada para casa. Na primeira prova tirei a maior nota da turma: 9,8. E até passou pela minha cabeça fazer vestibular para Química Industrial. Comprei um livro de experiências científicas (acho que o nome era O Pequeno Cientista, ou algo parecido) e quase levo minha mãe à loucura fazendo as tais experiências. Aprendi a fazer um aparelhinho que separava o oxigênio do hidrogênio da água e não dava sossego para mamãe pedindo dinheiro todo dia para comprar pilhas, pois o tal aparelho só funcionava com corrente contínua. Essas e outras coisas estão vivas na minha memória, como a lembrança do professor Marcos Rocha, de óculos, bata, fala mansa e uma paciência sem tamanho para explicar, quantas vezes fosse necessário. os assuntos considerados mais difíceis. Marcos Rocha faz parte da minha lista de professores inesquecíveis.
Marcos Rocha não era só um excelente professor. Era um homem solidário, religioso de espírito elevado, sempre pronto a amparar, consolar, dar força para quem estivesse enfrentando situações dificieis.
Quando minha mãe foi internada em estado terminal Marcos Rocha ia todos os dias ao hospital fazer orações acompanhado da mulher Nazica e do grupo de oração comandado por ele.
No dia 20 de julho de 1986 quando minha mãe morreu, ele nos deu todo apoio. Fez orações no velório e comandou o terço rezado nos setes dias, como manda a tradição católica.
Hoje, 20 de julho de 2009, 23 anos após o falecimento de minha mãe, é o corpo de Marcos Rocha que está sendo velado. Ele morreu sexta-feira à noite, vítima de naufrágio no traiçoeiro rio Araguary. Seu corpo só foi encontrado ontem e está sendo velado na Capela Santa Rita (Avenida Mendonça Furtado, próximo ao hospital São Camilo). Às 15 horas haverá missa de corpo presente na Igreja Jesus de Nazaré e logo após será sepultado.
Professor Marcos, obrigada por tudo que me ensinou sobre química e sobre a vida, obrigada pelos conselhos, orientações, orações e pelo ombro e apoio espiritual na hora mais difícil da minha vida.
Descanse na paz de Deus, meu querido e inesquecível professor.
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