Salão Marajó
Milton Sapiranga Barbosa, especial para o blog
Assim, simplesmente, poucos vão se lembrar. O Salão Marajó foi um dos primeiros pontos de encontro dos grandes dançarinos nas décadas de 40 e 50 em Macapá.
Quantos casais, ainda hoje juntos, não iniciaram namorico dançando ao som de um bolero do Waldick Soriano no tabuado do Salão Marajó? Primeiro funcionou na casa da dona Gertrudes e depois na esquina da rua Jovino Dinoá com a avenida Presidente Vargas, mas sempre na minha querida Favela.
O Salão Marajó é uma lembrança feliz de minha infância. Lá, na subida da ladeira, minha saudosa mãe Alzira Barbosa colocava sua banca para vender bolo, mingau e tacacá. Eu ajudava, junto com a mana Mariazinha, lavando as vasilhas e levando cuia de mingau ou tacacá para os fregueses mais folgados, que faziam seus pedidos do alto da escada ou da janela do Salão. E lá ia eu, cuia na mão, encarar 15 ou 20 degraus várias vezes na noite. Mas não reclamava, pois sabia que quanto mais eu subia degraus, mais minha mãe lucrava e no dia seguinte um boião farto estava garantido na mesa.
Mas vi também muita gente rolar escada abaixo, quando havia briga na casa. Salão Marajó. Não lhe lembrou nada? Então que tal Salão do Pecó? Pois era assim que os boêmios da época se referiam quando papeavam com os amigos e com as moçoilas. “Te encontro ou me espera lá no Pecó.”
Seu Jefferson Pecó, foi um dos primeiros empresários da noite amapaense.Tinha como ajudante seu filho mais velho, o Chico Pecó, hoje funcionário aposentado que reside na av. Pedro Baião, entre Hamilton Silva e Manoel Eudóxio, e com quem tive o prazer, dias atrás, de conversar sobre o salão de festas de seu pai. Ele ficou emocionado com as lembranças e eu, claro, também me emocionei.
Na baixa do Pecó, piçarra solta, de levantar poeira, trecho da rua Jovino Dinoá entre as avenidas Mendonça Furtado e Presidente Vargas, era nosso campo de pelada. Ali batia minha bolinha, numa pelada (jogo de bola entre amigos) animada, que começava às l5 horas e só terminava no escurecer, quando quase não se via mais a bola.
Joguei em outros campos, mas o da baixa do Pecó era especial. Zé Rodinha, Dodoca, Aviador, Duca, Arideu, Dedé, Stoesse, Dicoçá, Pilão, Soiá, Beto, Barata, Nolasco, Adamir, Raimundo Moroçoca, Curica, meus companheiros ou adversários nas peladas, ainda estão por aí para comprovar. Tinha mais moleques, mas estes já não estão entre nós, mas são também inesquecíveis; os irmãos Joaquim e Pedro: os gêmeos Torquato e Flávio e o irmão deles Sandó, o Pedroca, Maconga, Pelado, Lulu, Cabeça e Janjão.
O Salão Marajó (Salão do Pecó) também faz parte da minha infância feliz no Bairro da Favela. E como dizia meu saudoso compadre Flávio Guidão da Silva: Bons Tiempos .
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