segunda-feira, 27 de julho de 2009

Milton Sapiranga especial para o blog

COMÉRCIOS DA MINHA INFÂNCIA
Milton Sapiranga Barbosa, especial para o blog

A Casa Duas Estrelas – que ficava ali onde hoje é a Funasa - era uma casa que vendia de tudo, tendo a frente um português de sorriso fácil, o senhor Manoel Pinheiro, que costumava dar bombons para a molecada, como forma de garantir a freguesia. O moleque sempre preferia cumprir o mandado dos país na Casa Duas Estrelas.
Essa estratégia deu certo até que o senhor Amim Richene, concorrente de bairro, que tinha seu comércio onde hoje é a Ótica Menina descobrisse porque eu e outros moleques passávamos em frente ao seu estabelecimento e íamos comprar no comércio rival. Seu Amim Richene, que também era estrangeiro e muquirana, passou a agradar a meninada com caramelos e às vezes donzelas. Mas, mesmo assim, a maioria preferia ir na Casa Duas Estrelas, até por recomendação dos pais, já que seu Manoel fazia questão de manter seu comércio bem “sortido” e, a bem da verdade, vendia bem mais em conta e às vezes fiado, coisas que seu Amim não praticava.
Seu Zito, Ziló, Walter, a esposa e os filhos Gil, Fátima e Gilberto Pinheiro, também ajudavam no aviamento dos fregueses.
Já o seu Amim Richene, às vezes era evitado, porque tinha um ferimento na perna, que provocou muita zoeira e até briga entre moleques, pois quando alguém estava com uma donzela ou pão doce nas mãos, se deliciando com um copo de garapa ou um flip guaraná, era logo indagado: é do seu Amim? resposta positiva, vinha logo a gozação: agorinha entrei lá e ele estava coçando a perna. Cansei de jogar donzela e pão doce à distância.
Esses dois comércios (ambos ficavam na Mendonça Furtado c/ Leopoldo Machado) e seus donos e balconistas (alguns deles já nos deixaram) fazem parte de minha infância no bairro da Favela, onde, contrariando o saudoso Cartola, eu era feliz e sabia.


(Milton Sapiranga Barbosa é uma das pessoas por quem tenho grande admiração e carinho. Moleque criado no bairro da Favela e amante dos esportes, muito cedo começou a trabalhar como repórter esportivo na Rádio Difusora de Macapá. Era, ao lado de Almir Menezes, um excelente repórter ponta de gol. Digo pra vocês que quando comecei a fazer jornalismo esportivo, lá pelo comecinho dos anos 70, ficava observando o Milton e o Almir para aprender com eles)