sábado, 9 de agosto de 2008

Colunistas do blog

Arborização: Da Tuma do Buraco ao Macapá Verão 2008

Engenheiro florestal Alcione Cavalcante


Pois é findou mais um melancólico Macapá Verão. Parece que só então começa pra valer o verão equatorial, a impor de forma mais perceptível sua elevada temperatura. Dirão uns que tal situação é função da posição geográfica de nossa cidade, o que é correto. Entretanto, também é verdadeiro afirmar que temos contribuído para aumentar de forma decisiva nosso conseqüente desconforto térmico.

Ainda que se admita um quadro de grande complicação quando se afere que estivemos expostos a expressivos índices de inchaço demográfico (acima de 5% ao ano, segundo o IBGE) determinados por processos migratórios originários em demandas sociais e econômicas e em alguns casos conveniência política. Ainda assim, existem outras causas, estas mais posicionadas nos limites de nossa jurisdição. São diversas e estende-se desde a inobservância dos mais elementares princípios de planejamento urbano, ao descumprimento da legislação que rege o uso e parcelamento dos solos, até ocupação desenfreada de áreas de proteção ambiental, com importantes atributos ambientais e ecológicos, como é o caso das ressacas de Macapá.

Mas deixemos tal quadro de complexidades. Vamos nos ater a uma questão mais prosaica, no caso a arborização urbana de Macapá. Os cidadãos e os homens públicos se posicionam de forma diferenciada com relação a questão. Estes últimos, no geral, se postam de acordo com a conveniência política do momento ou da expectativa da interlocução. Os que se posicionam contra, normalmente argumentam que a arborização urbana suscita inconvenientes diversos entre os quais geram umidade em função do sombreamento, atraem insetos (ai, o fede-fede, argh !), deixam cair folhas que sujam os quintais e calçadas ( onde? onde?), entopem as redes de esgoto e drenagem de águas pluviais (tem isso em Macapá?) e no limite serve de esconderijo para usuários de drogas e assaltantes. Como vemos tecem argumentos de toda espécie. Todos discutíveis. Não há estudos ou notícias, por exemplo, de redução de assaltos ou de consumo de drogas, em função redução do verde das cidades.

Sem querer entrar em minúcias técnicas sobre a importância das árvores, convém citar seu valor na contenção de processos erosivos, na redução da incidência direta da luz solar, no abrigo da fauna, em especial aves que com suas dietas controlam a população de insetos urbanos. Expomos ainda o ciclo das águas que através da evapotranspiração faz circular, segundo alguns estudiosos, até centenas de litros de água por dia/árvore de grande porte. Significativa importância também quando a escudo natural de controle da poluição sonora, assim como ímpar barreira natural contra a poluição derivada dos particulados sólidos oriundos das chaminés (poucas) e descargas (muitas) que compõe o mapa urbano da cidade, e finalmente o mais famoso e importante: o processo fotossintético que sorve o CO2 da atmosfera e repõe o oxigênio.

Gostaria de centrar a questão em um ponto que parece ser dos mais relevantes, no caso a influência da arborização sobre o gradiente térmico urbano. No caso de Macapá, não há estudos que sinalizem com precisão este papel. No nível nacional, diversas instituições e pesquisadores se debruçam sobre o tema, gerando informações interessantes. Por exemplo, citamos o caso da cidade de São Paulo, onde ocorrem diferenças de até 10 ° C, no mesmo horário, entre padrões de arborização diferenciados.

Diferenças deste porte, no geral, são “corrigidas” através do uso de aparelhos e centrais de ar condicionado, que por sua vez consomem mais energia, remetendo ao uso mais intensivo dos recursos naturais e potencializando impactos negativos sobre o meio ambiente. Temos ainda o mais imediato dos prejuízos, no caso o que ocorre diretamente sobre o bolso e a saúde do cidadão.

Algumas cidades já perceberam significância do verde para a qualidade de vida dos cidadãos, como é o caso de Curitiba no sul e João Pessoa no nordeste, para ficar apenas nos exemplos mais conhecidos.

No caso de Macapá, vale a pena lembrar que o assunto não tem recebido dos dirigentes o apreço devido. Para alguns, o esforço mais recente data dos meados da década de oitenta, na administração Domício Magalhães. Para os mais antigos, como o Laércio Aires, a sério mesmo só a Turma do Buraco, sob a gestão Janary Nunes, na década de cinqüenta, ambas quando ainda éramos “O Verde Território da Esperança”, no dizer de Alcy Araújo e Álvaro da Cunha.

Como se vê, nesta questão, como em outras, não é bom apostar apenas no Poder Público. Você deve estar se perguntando – o que é que eu tenho a ver com isso? Resposta: Tudo.