quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Artigo

Senta que o leão é manso!
Ademir Pedrosa


Enjaularam o leão, é verdade. E logo um leão inocente, inócuo e singelo. Um inocente útil, não agregado à organização política ou à ideologia de interesses escusos. E enjaularam o pobre bichano. A jornalista Alcinéa Cavalcante fotografou o bicho atrás das grades em sua habitual pose elegante e nobre. E belo.

O jornalista Élson Martins nos bons tempos do jornal “Folha do Amapá”, também botou o então governador do Amapá Aníbal Barcellos, que na ocasião posava de boné azul, na cadeia. Fotografou-o casualmente por trás de umas grades, e estampou na capa do jornal, enjaulado. Qual a diferença entre os dois presos em seus cárceres alegóricos? – é a pergunta pertinente. Discrepante e abissal, respondo. Primeiro, o leão é factualmente manso; enquanto o outro, nem tanto. Segundo, a imagem metafórica do leão é contemplativa e politicamente correta; enquanto a insígnia do boné-azul era uma espécie de suástica, que atendia aos interesses da ditadura barcellista, a qual pretendia continuar no poder naquele estádio sombrio, de um regime cruel e arbitrário, e que combatemos estoicamente, e vencemos. E até hoje – sem tirar nem pôr –, o Comandante anda efetivamente por aí.

Quando fui presidente do Conselho de Cultura do Amapá, no governo Capiberibe, eu tive um encontro com o ministro da cultura Francisco Weffort e com Márcio Sousa, presidente da Funarte. Esse encontro resultou na aprovação de três projetos – projetos esses que havia a muito hibernados nas gavetas – que apresentei a eles: reforma e restauração do prédio do antigo Fórum – já sede da OAB –, pequena restauração do forte da Fortaleza e o projeto cultural “Encontro dos Tambores”, do Igarapé do Lago, cujo valor total era na ordem de 1 milhão de reais. Por incompetência da administração da Fundecap, os dois últimos projetos, o da Fortaleza e do Igarapé do Lago, caducaram nas gavetas por conta dos trâmites burrocráticos vigentes. No entanto, a OAB foi contemplada com 350 mil reais para sua reforma e restauração, porque seus dirigentes atenderam aos critérios técnicos que o Ministério da Cultura exigia. Pelo que sei, aplicaram direitinho e devidamente os recursos na reforma do prédio – e nem foi preciso enjaular o leão. E ele continuou ali, solto e magnífico, um guardião da efemérides, sob a égide da Lei.

Ao que parece a OAB está na berlinda. É OAB pra cá, OAB pra lá. Segundo Yashá Gallazzi a OAB do Amapá é farinha do mesmo saco, pertencente à maquiavélica “turma do azul”. O Desembargador Carmo Antônio quer saber que diacho de turma é essa que Gallazzi agregou até o poder Judiciário, do qual o desembargador é presidente. Gallazzi vai ter que se explicar, ou aprender a se conter e ficar só no sapatinho. E pra cirandinha não esvaziar, vem o Senador Gilvan Borges e quer aniquilar com os exames da Ordem aos bacharéis de Direito. Se porventura o leitor achar que isso é pouca porqueira, que chupe essa manga: fui interpelado judicialmente pelo o advogado Anderson Lobato Favacho (OAB/AP 1.102). O texto de sua interpelação, com apenas cinco laudas, possui cinqüenta e oito erros em língua portuguesa, dos mais elementares aos mais grotescos. Se eu fosse juiz, recusaria a ação judicial de tal espécie, a que não tivesse o mínimo de lisura com a Língua. Se acaso a pretensão do senador quixotesco não vigorar, vou sugerir a OAB que em suas avaliações inclua o “ditado”. Pode parecer bobagem, mas o que vai ter de candidato reprovado na Ordem, vai se uma festa. Ademais, os erros cometidos contra a língua vernácula por aquele advogado, em qualquer instituição decente configuram motivos de sobra para suspender a credencial de sua matrícula. Vão dizer que não, que isso é um exagero, e coisa e tal. Agora, experimenta ficar inadimplente...

Senhor Presidente Washington Caldas, data vênia. Vossa Excelência pode sentar-se tranqüilamente. Sente-se, Doutor, que o leão é manso. A grade não carece. Ela pode, doravante, ser de serventia para outros leões que tripudiam livremente por aí. Se prevalecer na Justiça a eqüidade cega, muda e surda. Amém!


Ademir Pedrosa é escritor e professor de língua portuguesa e literatura