segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Um atentado à arquitetura

Inaugurado em 15 de novembro de 1945 (segundo o historiador Edgard Rodrigues) – dois anos após a criação do Território Federal do Amapá – o prédio do antigo Fórum de Justiça de Macapá está impregnado da história e cultura do povo tucuju, faz parte da bela paisagem da cidade, encanta jovens, adultos, crianças e turistas.
Na escadaria do prédio idosos sentavam para descansar apreciando o rio Amazonas, jovens sentavam para bater um papo gostoso ou ler um bom livro recebendo a brisa do majestoso rio, turistas batiam fotos e mãezinhas orgulhosas faziam questão de ser fotografadas com seus rebentos ao lado das estátuas dos dois leões, encantadora obra de arte do escultor português Antônio Pereira da Costa.
Hoje o prédio abriga a OAB-AP. E é aí que começa um atentado à arquitetura, a nossa história e a nossa cultura.
Vejam só o que a OAB teve o desplante de fazer: cercou o prédio com horríveis grades. Adeus bate-papo na escadaria do fórum, adeus momentos de puro encanto recebendo a brisa, reverenciando o rio Amazonas ou admirando a lua das escadarias. Nunca mais os turistas terão direito de fazer pose ao lado dos leões para depois mostrar essa magnífica obra de arte para os amigos espalhados por esse mundão de meu deus. E as crianças de hoje e as que estão por vir jamais poderão chegar pertinhos desses leões como fez a minha geração e tantas outras.
A desculpa da OAB para gradear o prédio é o medo de assalto. Dizem que recentemente a OAB foi assaltada, daí a idéia de colocar essas horrorosas grades cometendo, segundo os arquitetos, um grande atentado à arquitetura.
Vem cá, para se prevenir dos assaltantes e ladrões os “iluminados” advogados não poderiam pensar numa solução menos brega? Que tal colocar alarmes, segurança eletrônica, segurança armada? Dinheiro pra isso tem. E como tem.
Vejam bem: já colocaram grades, já substituíram algumas das antigas portas por outras mais modernas, já mexeram na escadaria, já mudaram aqui e acolá alguns detalhes. O meu medo é que se ninguém botar a boca no trombone um dia derrubem este prédio para construir no lugar um edifício “super moderno”.
Enquanto em outras cidades se preserva e se tomba as edificações antigas, aqui em Macapá se derruba tudo. Já não tem quase nada da Macapá antiga e se a gente cruzar os braços daqui a pouco vai restar apenas a Fortaleza de São José de Macapá, isso porque ainda não tem trator capaz de derrubá-la e nem tecnologia para implodi-la.