sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Diga aí, Flávio!


“O falecido Celso Saléh amava o Amapá. Casado com a amapaense Ilka Maria Barriga Saleh, foi presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), comunista e chefe de gabinete de diversos presidentes do Senado, incluindo entre eles, Mario Martins e Petrônio Portella. Esse perfil de comunista, líder estudantil com um discurso fervoroso se deu num passado distante. Depois de preso pelo golpe militar de 1964, foi solto fazendo carreira de funcionário público no Amapá até entrar no Senado, onde era gentil, educado e competente técnico legislativo (o seu trabalho das 5h. até 10h30 correspondia ao trabalho de três dias de um funcionário comum). Isso durante parte da madrugada e dia. Depois, como era chegado a uma birita, ia descansar. Mas nesse período é que morava o "perigo". Ele virava aquele líder estudantil, com um discurso vibrante, irônico, questionador de tudo e de todos. Assim, em 1990, candidato pelo Amapá a uma cadeira no Senado, Saléh andava a busca de votos. Na ida todos gostavam daquele ser dócil, inteligente, educado. Na volta, se assustavam com o discurso de um candidato irreverente, sem medo, que "baixava o pau" nos militares. Não foi eleito. Se recusou a elogiar no rádio o candidato do mesmo partido ao senado, Henrique Almeida (que depois se elegeu), e ainda disse no ar que era um candidato do povo, não de um homem! Eu vi o seu número que terminava em 21 se transformar em 27 (Sérgio Barcellos), nas mesas de apurações dos votos. Informado do fato, Saléh apenas disse: "Eles não me queriam deputado independente!".

O jornalista Flávio Barros é carioca, mora em Niterói (RJ) mas passou uma temporada em Macapá, onde trabalhou em vários jornais, dentre eles o Jornal do Dia.